Agricultores espanhóis das regiões de Leão e Zamora, na fronteira com o nordeste de Portugal, levaram hoje mais de 300 tratores para as estradas em protesto contra políticas europeias, à semelhança do que está a acontecer noutros países da UE.
Estes protestos em Leão e Zamora, na região autónoma de Castela e Leão, foram convocados nas redes sociais e por outros canais informais, sem comunicação às autoridades e à margem das confederações agrícolas espanholas que na terça-feira anunciaram a adesão ao movimento de protesto dos agricultores europeus com uma série de mobilizações em todo o país durante as próximas semanas.
O ministro espanhol da Agricultura, Luís Planas, anunciou hoje que receberá na sexta-feira as três maiores organizações agrícolas do país, as mesmas que fizeram o anúncio de protestos na terça-feira (Asaja – Associação Agrária Jovens Agricultores, UPA – União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e Coordenadora de COAG – Organizações de Agricultores e Ganadeiros).
Os protestos de hoje com tratores, em diversos pontos das províncias de Leão e Zamora, não provocaram cortes de estradas ou outras vias, mas perturbaram o trânsito, que teve de se fazer de forma lenta, originando congestionamentos em alguns pontos, segundo autoridades e meios de comunicação locais.
Um dos protestos estendeu-se até à fronteira com Portugal, pela estrada que faz ligação à autoestrada portuguesa A4.
Uma das maiores concentrações foi na própria cidade de Zamora, onde cerca de 120 tratores, segundo as autoridades, percorreram várias ruas.
Os participantes neste protesto em Zamora desvincularam-se de organizações agrícolas ou partidos políticos e disseram que aquilo que os move é a reivindicação de melhores condições para o setor da agricultura, o que inclui a revogação do designado “pacto verde” da União Europeia e a revisão de acordos internacionais de livre comércio.
Estes agricultores pediram também mudanças em leis espanholas, como a das alterações climáticas ou do bem-estar animal.
Já na vizinha província de Leão, as autoridades estimaram em 230 os tratores em protesto nas estradas, em manifestações que também não foram pré-anunciadas.
As três principais organizações agrícolas espanholas que anunciaram na terça-feira a adesão ao movimento de protesto dos agricultores europeus justificaram, num comunicado, que “o setor agrícola na Europa e em Espanha enfrenta uma frustração e um mal-estar crescentes devido às condições difíceis e à burocracia sufocante gerada pela regulamentação europeia”.
Segundo as três organizações, os primeiros protestos que vão organizar terão lugar à escala regional nas “próximas semanas”, sem especificarem datas.
Entre os motivos, referiram a necessidade de mudanças a nível da União Europeia (UE), nas políticas governamentais e na aplicação pelas comunidades autónomas.
Os representantes do setor disseram também que vão pedir ao ministro da Agricultura “soluções imediatas” para resolver os problemas decorrentes da seca, da guerra na Ucrânia, da Política Agrícola Comum (PAC) e das questões laborais.
Em relação à UE, destacaram a “concorrência desleal” e a luta dos agricultores contra um mercado desregulado que importa de países terceiros “a preços baixos” e com regulamentos desiguais.
Anunciaram que vão exigir a suspensão da ratificação dos acordos com o Mercosul e a Nova Zelândia, e das negociações com o Chile, Quénia, México, Índia e Austrália.
Também vão exigir o aumento dos controlos das importações provenientes de Marrocos.
Vão igualmente protestar contra a atual PAC, cuja campanha começa na quinta-feira, 01 de fevereiro, que consideraram implicar uma burocracia insuportável e com custos ambientais.
A agricultura espanhola junta-se assim às ações conjuntas de agricultores de países como a França, a Itália, a Bélgica, a Alemanha, a Polónia e a Roménia.
Em Portugal, os agricultores vão manifestar-se a partir das 06:00 de quinta-feira com máquinas agrícolas nas estradas de várias zonas do país, reclamando “condições justas” e a “valorização da atividade”, segundo um comunicado divulgado hoje pelo Movimento Civil Agricultores de Portugal, que se apresenta como “um movimento civil espontâneo e apartidário”.