A atividade florestal em Portugal já revela uma cultura de segurança e de adoção de boas práticas silvícolas, mas nunca é demais alertar para comportamentos, procedimentos e regras que reduzem o risco na floresta. Susana Morais é formadora para a área de segurança no programa que a The Navigator Company desenvolve em parceria com os grupos de Certificação Florestal e Certificação de Cadeia de Custódia, numa ação que desenvolve com sentido de missão e satisfação. “Há dez anos não víamos ninguém de colete na floresta, nem operadores equipados com calças anti-corte e botas de proteção. Hoje já não é assim”, afirma em entrevista à “Produtores Florestais”.
Qual a importância das práticas de segurança na atividade florestal?
A segurança e as boas práticas florestais são essenciais. Em Portugal existe um histórico muito grande de acidentes na floresta e temos de evitar que eles aconteçam. Quando alertamos para as questões de segurança na atividade florestal estamos a falar da vida das pessoas e de aspetos que podem comprometer uma atividade que é importante. É preciso ter em conta que a segurança no espaço florestal não se limita às pessoas que ali trabalham, mas também todos os que circulam nesse espaço. A sinalização é obrigatória sempre que há trabalhos em curso.
Que comportamentos devem ser adotados na proteção de todos?
A primeira regra a cumprir tem a ver com as distâncias de segurança, entre operacionais e para quem circula ou interage no espaço florestal. Na floresta não é possível trabalharem todos juntos e têm de ser asseguradas distâncias de segurança, mesmo em propriedades pequenas. Temos de ter em consideração que uma árvore pode ter 20 metros e se acerta em alguém, quando cai ao chão, a coisa não corre bem. Já o motosserrista, quando está a fazer o corte, tem de garantir um caminho de fuga lateral à direção de queda da árvore, pois se se desviar na direção oposta pode apanhar com o coice, o ressalto da árvore. E não pode abandonar a árvore com a bica (golpe) feita, pois está a colocar em perigo a segurança de terceiros. O primeiro golpe pode danificar a árvore e esta tombar pela ação do vento. O motosserrista precisa ter em conta a direção do vento, pois esta condiciona a direção de queda da árvore.
“É preciso ter em conta que a segurança no espaço florestal não se limita às pessoas que ali trabalham, mas também todos os que circulam nesse espaço”, realça Susana Morais.
Quais são as situações mais perigosas no contexto florestal?
Uma das causas de acidentes, que por vezes leva a fatalidades, são as árvores enganchadas ou, como muitos operadores chamam, quermesses, cabanas ou gaiolas. Isto é, uma árvore que cai em cima de outras e fica suspensa, correndo o risco de partir outra ou deslizar na sua queda. Não conheço nenhum motosserrista que facilite neste tipo de situação. Uma árvore nesta situação não pode ser abandonada sem estar sinalizado o perigo na zona (com fita vermelha e branca ou amarela e preta). Uma árvore enganchada é tão perigosa numa mata como um poço que não está tapado. A solução pode passar por utilizar a máquina processadora ou o trator de rechega para a deitar abaixo, já que o operador está protegido dentro da cabine.
Que regras deve obedecer quem opera máquinas pesadas?
Primeiro que tudo, porta fechada. As máquinas operam-se com portas fechadas, de preferência com os vidros também fechados. É importante ter o cinto de segurança e não haver objetos à solta dentro da cabine, cortantes ou outros. Temos de perceber que estas máquinas operam na floresta, muitas vezes em declives, e podem virar-se. Além disso, é preciso um cuidado especial a subir e descer das máquinas. Essa é uma das situações de acidentes com mais baixas prolongadas na atividade florestal e para quem trabalha com máquinas pesadas, inclusive os motoristas, que sobem e descem da cabine dezenas de vezes durante um dia. É importante levar uma mochila ou um saco, para colocar o telemóvel, uma garrafa de água, etc., que possibilite ter as mãos livres e garantir que se cumpre a regra dos três apoios. Isto é, subir e descer com os dois pés e uma mão, ou as duas mãos e um pé, sempre apoiados.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.