O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC), Carlos Pinto de Sá, considerou hoje que “sem o Alqueva a região estaria numa situação trágica”, devido à seca, e defendeu uma agricultura compatível com a água disponível.
“A criação [da barragem] do Alqueva foi determinante para que a região não tenha, neste momento, problemas significativos no abastecimento público de água”, afirmou à agência Lusa Carlos Pinto de Sá, também autarca de Évora, eleito pela CDU.
Para o presidente da CIMAC, que integra as 14 câmaras do distrito de Évora, a barragem do Alqueva, cujo enchimento começou há mais de 20 anos, “é um investimento público de grande importância e tem um impacto estrutural no Alentejo”.
“Era a grande resposta ao problema de falta de água no Alentejo e está-se a provar que o é”, referiu, sublinhando que, “sem o Alqueva, a região estaria numa situação trágica, não apenas para a agropecuária, mas também para o abastecimento público”.
Nas declarações à Lusa a propósito da situação de seca, Pinto de Sá realçou que “a agricultura gasta cerca de 80% da água consumida no Alentejo” e que, perante a escassez de água, o setor deve ter em atenção que tipo de culturas instala na região.
“As culturas que estão a ser colocadas no Alentejo correspondem àquilo que são os desafios do futuro da produção agrícola nas condições climatéricas que estamos a ter e que vamos ver agravadas”, questionou.
Nesse sentido, o presidente da CIMAC manifestou preocupação com a propagação de culturas superintensivas pela região, que, na sua opinião, “gastam muita água”, e propôs “uma reflexão nacional sobre esta matéria”.
“A nosso ver, têm que se encontrar soluções de produção que sejam compatíveis com as reservas de água que vamos ter para o futuro”, advertiu.
De acordo com o responsável, a situação de seca que atinge a região “já está afetar, em particular, a produção agropecuária, nomeadamente os cereais e a pecuária”, mas não se preveem “problemas de maior” quanto ao abastecimento público de água.
“O abastecimento está assegurado, mas temos algumas zonas, algumas freguesias, um pouco por todo o Alentejo Central, onde podemos vir a ter situações pontuais de falta de água, não no imediato, mas um pouco lá mais para a frente”, antecipou.
Pinto de Sá reconheceu que a situação de seca “vai obrigar os municípios a tomarem algumas medidas de poupança e gestão da água”, mas salientou que as câmaras “são autónomas para adotar as medidas que entenderem mais convenientes”.
“A CIMAC não se pronuncia, constata apenas a situação e procura, em alguns casos, articular posições, nomeadamente nas intervenções que faz quando se reúnem os grupos de trabalho das bacias hidrográficas”, adiantou.
O também autarca de Évora apontou ainda a necessidade de investimentos nas redes de abastecimento de água, sobretudo em baixa, para a substituição das infraestruturas que “já estão envelhecidas e que já têm perdas significativas”.
A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, anunciou, na segunda-feira, ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca severa e extrema em 40% do território nacional, no sul do país.
Na quarta-feira, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou que a situação de seca meteorológica se agravou em Portugal continental no mês de abril, estando 89% deste território em seca, 34% da qual em seca severa e extrema.