O controlo e combate de pragas e doenças é fundamental na gestão dos espaços florestais, para garantir o retorno económico nessas áreas, nomeadamente nos povoamentos de eucalipto que estão na base de um importante setor industrial em Portugal.
Assegurar uma floresta saudável e produtiva pressupõe, por isso, um bom conhecimento das condições fitossanitárias no terreno e dos seus impactes. Dado que os eucaliptos são usados principalmente para a produção de madeira, as pragas e doenças que os afetam têm, sobretudo, impacte económico, ao reduzirem o valor dessa madeira. “Estamos a falar de menor quantidade e menor qualidade da madeira”, sublinha Carlos Valente, investigador em Proteção Florestal no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel.
Além de reduzir a disponibilidade de madeira no mercado e de retirar trabalho a prestadores de serviços florestais, as pragas causam o abandono da floresta, favorecendo os incêndios e a disseminação de espécies invasoras, com impactes negativos no meio ambiente.
Gorgulho e brocas entre as maiores ameaças
As pragas mais importantes no eucaliptal português são o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis) e as brocas-do-eucalipto (Phoracantha spp.), mas existe mais de uma dezena de insetos que podem ser considerados pragas. Relativamente a doenças, causadas por vários fungos, destaca-se a doença das manchas das folhas (por fungos dos géneros Mycosphaerella e Teratosphaeria).
O gorgulho come as folhas adultas do eucalipto, atacando entre março e maio, e, por vezes, também no outono, e estima-se que causa, em média, a perda de um milhão de m3 de madeira por ano. Já as brocas-do-eucalipto afetam preferencialmente as árvores debilitadas pela seca (em verões prolongados e quentes), por fogos ou por outros fatores de stresse, as quais emitem odores que atraem os insetos adultos.
Além de reduzir a disponibilidade de madeira no mercado e de retirar trabalho a prestadores de serviços florestais, as pragas causam o abandono da floresta, favorecendo os incêndios e a disseminação de espécies invasoras.
Para a sua monitorização, a equipa de investigadores e técnicos do RAIZ está a rastrear áreas com o recurso a tecnologias de deteção remota que, segundo Carlos Valente, “têm sido particularmente úteis para aquelas que causam mortalidade e debilidade das árvores, como as brocas-do-eucalipto”.
Quanto aos métodos de controlo, a investigação tem privilegiado o controlo biológico e a seleção e desenvolvimento de eucaliptos, através de um programa de melhoramento genético, que resultam em plantações mais tolerantes ou resistentes às pragas e doenças.
Inimigos naturais no combate às pragas
O controlo biológico não é mais que o uso de inimigos naturais da praga identificada. “Depois de diversas prospeções na Austrália, de onde são provenientes as pragas do eucalipto, identificámos várias espécies de insetos que são inimigos naturais do gorgulho”, explica Carlos Valente.
Criados em condições de quarentena, a sua futura utilização implica a realização de estudos para avaliar a sua eficácia e riscos de introdução. “Só depois de demonstrado o potencial ganho e o baixo risco será possível solicitar a respetiva autorização legal para libertar um dado inimigo natural em campo”, adianta o investigador.
Atualmente, este método já é aplicado em campo usando duas espécies de insetos benéficos (Anaphes nitens e A. inexpectatus), mas isto não é suficiente para evitar que a praga do gorgulho-do-eucalipto cause prejuízos em algumas regiões do país. “Por isso, estamos a realizar estudos laboratoriais com outro inimigo natural – uma mosca do género Anagonia – com resultados promissores”, acrescenta Carlos Valente.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.