A cultura da amêndoa em Portugal tem tido nos últimos anos um enorme crescimento com a plantação de novos amendoais de norte a sul do país. No Alentejo, onde não existia esta cultura, têm sido plantadas milhares de amendoeiras. A escolha desta região por grandes investidores deve-se ao facto de existirem propriedades de média e grandes dimensões. Também no Ribatejo, têm surgido investimentos em amendoais e o potencial de crescimento é muito grande. Esta é uma região onde, pelo menos desde o séc. XVIII, há registo da existência de amendoeiras, tradicionalmente de sequeiro e por regra ao longo das estradas e a delimitar as extremas das propriedades.
Sendo uma cultura que se dá muito bem nesta região e tendo em conta os excelentes solos do Ribatejo, o potencial de se tornar uma cultura com uma elevada rentabilidade é muito grande
Considero que os investimentos no Ribatejo serão de dimensão inferior às grandes áreas que têm surgido no Alentejo. Dentro de alguns anos os investimentos serão em número significativo, mas na sua maioria até 50 ou 60 hectares, podendo ser maiores nalgumas exceções. Muitas empresas agrícolas e explorações familiares que habitualmente se dedicam à exploração de outras culturas, na sua maioria anuais, como o milho, o tomate e algumas hortícolas, poderão vir a investir na reconversão total ou parcial das suas terras numa cultura permanente, como a amendoeira. Esta tendência justifica-se pelo facto da rentabilidade destas culturas anuais ter vindo progressivamente a registar um decréscimo, face ao potencial dos amendoais cuja rentabilidade poderá ser superior a 3.000 euros por hectare, quando chega à produção cruzeiro.
Os agricultores ribatejanos têm de procurar culturas que dêem maior valor acrescentado às suas explorações e que consigam obter um maior rendimento o qual valorize os seus ativos. No Ribatejo, um investimento de 20 ou 30 hectares (cerca de 5.000 euros/hectare em pomares intensivos com um compasso de 6m x 4m) será muito interessante em termos de rentabilidade.
Existem na nossa região múltiplas vantagens que devem ser aproveitadas, como o preço da água, fundamental para o amendoal moderno, a qualidade das terras, outro fator a ter em conta e que pode ajudar à produção de colheitas muito rentáveis. Também o nível de geadas é baixo, sendo por isso o clima no Ribatejo vantajoso para permitir uma produção elevada, quando são utilizadas variedades com floração tardia. Acredito que a cultura da amêndoa no Ribatejo, pode ser uma excelente alternativa às culturas tradicionais.
Na Califórnia, onde se produzem 82% das amêndoas mundiais, o maior número de explorações é de dimensões reduzidas. Cerca de 75% dos amendoais têm menos de 40 hectares e são cultivados por famílias.
Para que uma nova cultura agrícola possa desenvolver-se, os agricultores necessitam de apoio e acesso a conhecimento. Esse apoio também já existe no Ribatejo. A CADOVA constitui-se como uma OP para a cultura da amêndoa e tem investido em equipamento para receber e comercializar as amêndoas de todos aqueles que queiram tornar-se produtores na região. Já está disponível um despelador e foi criada uma zona de secagem nas suas instalações industriais, na Chamusca. Está também constituída uma equipa de técnicos e de consultores, assim como um grupo de prestadores de serviço de qualidade para apoiarem a instalação dos amendoais.
Ao nível do conhecimento, o Ribatejo vai receber a segunda edição do II Seminário Internacional “O potencial e a rentabilidade da cultura da amêndoa” no dia 17 de setembro 2019, no Auditório da Escola Superior Agrária de Santarém, estando a organização a cargo da AlmondPT, da Cadova e da Escola Superior Agrária. Vão estar presentes os melhores especialistas internacionais, americanos, espanhóis e portugueses que vão passar muita informação sobre a sua experiência a todos os agricultores que queiram saber mais sobre esta promissora cultura. Nesse dia, vai também realizar-se uma tarde de campo onde será possível observar-se a colheita de um amendoal superintensivo, por máquina vindimadora, na Quinta da Lagoalva de Baixo, em Alpiarça.
João Freire de Andrade
Produtor de amêndoa no Ribatejo | Fundador da AlmondPT
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 229 (ago.set 2019)