A propósito da conferência sobre o impacto do Pacto Ecológico Europeu na agricultura, que decorreu recentemente na Agroglobal, ficam algumas reflexões depois de ouvir produção, investigação, responsáveis pela política e regulação e parceiros na área dos fatores de produção.
O Green Deal pode ser uma oportunidade para Portugal se afirmar e liderar a transição agroecológica na Europa. Na verdade, o País tem tudo para isso. Beneficiando de um atraso secular na implementação massiva de práticas modernas, o setor modernizou-se beneficiando já de muita aprendizagem com os erros do passado de outros países mais evoluídos tecnicamente. A atual agricultura moderna, profissional e capacitada está completamente orientada para a eficiência, o primeiro pilar da sustentabilidade. Muitas das medidas propostas ligadas à gestão de recursos estão já bem enraizadas na gestão das explorações nacionais, em especial na eficiência hídrica, algo ainda desconhecido para a generalidade dos países europeus, que começam agora a sentir os efeitos de períodos de seca.
O segundo pilar são as práticas regenerativas, com muito foco no solo e na gestão da biodiversidade. E o que temos visto é animador. Culturas de cobertura, rotação de culturas, faixas para polinizadores, mobilizações mínimas e sementeiras diretas, integração de animais no sistema, tudo isto ligado a explorações que se tornam cada vez mais autossuficientes a nível energético e que utilizam fatores de produção na medida do estritamente necessário e usando tecnologia de precisão.
Na proposta da Comissão para o Farm to Fork, a estratégia que mais impacto terá na agricultura, os pontos quentes da discussão passam pela redução de pesticidas e adubos de síntese (proposta de redução de 50%) e a expansão da área de agricultura biológica para 25%.
“A recente aprovação da Lei do Restauro da Natureza, com uma margem mínima e muitas reticências, lembra-nos que o mindset da Comissão nem sempre encontra acolhimento nos eurodeputados, tendencialmente mais ligados à realidade concreta dos setores e com conhecimento do que acontece no terreno.”
Não é expectável, nesta fase, que a proposta seja aprovada com estes números. E, a ser, será com certeza com metas alargadas e muitas condicionantes. A recente aprovação da Lei do Restauro da Natureza, com uma margem mínima e muitas reticências, lembra-nos que o mindset da Comissão nem sempre encontra acolhimento nos eurodeputados, tendencialmente mais ligados à realidade concreta dos setores e com conhecimento do que acontece no terreno. E esse é o terceiro pilar básico, mas essencial: o bom senso. Bom senso de quem propõe, mas também de quem tem a responsabilidade de negociar e de fazer valer as suas razões. Esta razoabilidade tem de prevalecer sob pena de aprovarmos estratégias que vão falhar porque não é possível implementá-las sem a compreensão e adesão de quem trabalha na produção de alimentos e nas suas cadeias de valor.
Em resumo, o trabalho transformador feito na última década na agricultura nacional leva-nos a crer que o desafio do Pacto Ecológico Europeu tem tudo para ser superado!
#agricultarcomorgulho
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.