O país atravessa uma crise sem precedentes, por causa da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Cujos efeitos se somam aos da seca.
Uma situação de emergência que, segundo o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, exige medidas substanciais: uma espécie de bazuca para somar aos 10 mil milhões de euros do próximo pacote europeu para a Política Agrícola Comum.
Temos um novo Governo, mas a mesma ministra na pasta da Agricultura. Fica descansado com a manutenção de Maria do Céu Antunes em funções?
O primeiro-ministro foi legitimado com uma maioria absoluta muito expressiva, não contestamos as suas escolhas. Não me compete fazer uma análise da pessoa em si, porque a nossa função é trabalhar com a pessoa a quem foi entregue a pasta. E felicito a senhora ministra pelo facto de ter sido reconduzida, com responsabilidades acrescidas, uma vez que passa a ser também da Alimentação e das Pescas.
A Agricultura ganha força? O senhor já se queixou que era um Ministério sem força política.
Ganha, mas ganharia mais se o setor das florestas tivesse regressado à esfera do Ministério da Agricultura. Continua a dividir-se algo que não é divisível. É o único comentário negativo que posso fazer.
Acrescentar a Alimentação à Agricultura é um elemento significativo?
A alimentação não pode ser considerada um bem adquirido. A Constituição consagra o direito à alimentação e nós costumamos dizer que temos o direito à alimentação enquanto houver. E o “enquanto houver” traz à equação a agricultura, que está na base da produção de alimentos, está na base da nossa soberania, e por isso tem de estar de mãos dadas com a alimentação.
Este Governo inicia funções quando o país atravessa dificuldades conjunturais particularmente graves. Embora ambas sejam provocadas por fatores exógenos ao setor da agricultura. Começando pela situação da seca. O Governo já fez tudo o que pode para combater este problema, ou, nessa matéria, como chegou a sugerir uma antiga ministra da Agricultura, Assunção Cristas, o melhor que há a fazer é rezar?
Hoje [sexta-feira, dia em que foi gravada a entrevista] até é um dia especial, uma vez que está a decorrer no Vaticano a consagração da Ucrânia e da Rússia a Nossa Senhora. Para quem é sensível a essas matérias, o rezar pode ser importante.
De acordo, mas não chega.
Não chega, obviamente. O Governo fez alguma coisa, mas não fez tudo. A seca tem efeitos imediatos e efeitos a longo prazo. No que diz respeito ao longo prazo, o que é preciso é reforçar as reservas estratégicas de água, com mais barragens para armazenar maiores quantidades. No que diz respeito ao curto prazo, as decisões a nível nacional, como a nível europeu são muito lentas. Já deveria haver medidas aplicadas no terreno. O tempo não pára. A agricultura não pára, a natureza não faz pausas à espera das decisões burocráticas. Há uma fraca sensibilidade para a questão da urgência, e, na seca, há coisas que são urgentes. A questão dos animais é uma delas.
Portugal vai sofrer, durante as próximas décadas, os efeitos do aquecimento global e a consequente escassez de água. Para além disto exigir investimentos e subsídios, o setor também não tem de se saber adaptar aos novos tempos?
Mas o setor não está a adaptar-se aos novos tempos? A cultura do abacate, por exemplo, é uma consequência das alterações climáticas. Não tínhamos clima para cultivar abacates e agora já temos. Mas há trabalho a fazer e os agricultores estão a fazê-lo. E a questão do armazenamento de água e de haver mais condições para armazenar água faz parte dessa estratégia. Porque ao manter o território ocupado estamos também a combater a desertificação, que é uma das consequências das alterações climáticas.
A outra dificuldade conjuntural é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que trouxe uma subida dos custos com os fertilizantes, pesticidas, combustíveis, energia, transportes. Há o risco de falências no setor?
Pode haver acidentes de percurso, se não forem tomadas as devidas precauções. E o que significa tomar as devidas precauções? A CAP lançou um repto ao Governo no sentido de criar uma espécie de almofada: a partir de um determinado valor alguns bens de produção, como a energia e os combustíveis, o custo seria suportado por essa almofada financeira, a ser incluída numa futura bazuca.
Sente que há alguma abertura para aplicar esse tipo de medida, ou poderá […]
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