É com admiração que ao longo de vários anos observo o lobby da soja: na década de 60 do século passado tentando substituir o azeite por óleo de soja, depois procurando arredar o leite de vaca da nossa mesa para substituí-lo pelo chamado “leite de soja” e, mais recentemente, esforçando-se por utilizar designações tradicionalmente associadas a carne como “hambúrguer”, “salsicha” ou “bife” para veicular a proteína de soja.
No que toca ao azeite alegava-se nos anos 60 do século passado que o óleo de soja era particularmente rico em ácidos gordos polinsaturados, nomeadamente em ácido linoleico, e por isso seria mais saudável que o “ouro líquido” de Portugal.
Mas, pelo contrário, sendo rico em ácido oleico (monoinsaturado) o azeite virgem apresenta propriedades antioxidantes (vitamina E) e anti-inflamatórias, que protegem o coração e combatem os efeitos do envelhecimento. O azeite continua a constituir a principal gordura da dieta mediterrânica, apresentando um sabor e aroma muito apreciados pelos portugueses e cada vez mais por outros povos.
Hoje Portugal é um dos maiores produtores de azeite, em parte graças aos modernos olivais plantados após a construção da barragem do Alqueva, tendo as exportações ultrapassado os mil milhões de euros nos dois últimos anos. É importante que também o lobby português promova o “ouro liquido” de Portugal.
No que respeita ao “leite de soja” (e também de amêndoa, aveia, caju, coco, etc.), a legislação europeia agora proíbe que bebidas vegetais sejam comercializadas como leite, para se evitar que se confunda com o leite de vaca.
Efetivamente este alimento apresenta propriedades nutricionais excecionais, nomeadamente proteína rica em aminoácidos essenciais, minerais (cálcio, fósforo) e vitaminas (A, B2, B12, esta ausente nos vegetais), e proporciona diversos benefícios para a saúde, como prevenir a osteoporose, favorecer o ganho de massa muscular e manter a saúde da visão.
Assim sendo parece correto que as bebidas vegetais não sejam comercializadas de modo a confundir os consumidores, além de que muitas dessas bebidas são produzidas longe de Portugal, por um lado com impactos ambientais negativos e, por outro, retirando mercado aos produtores de leite portugueses.
Uma terceira via explorada pelos principais países produtores de soja, todos do continente americano, consiste em substituir a proteína animal por soja, por regra geneticamente modificada (OGM) e por vezes cultivada com pesticidas proibidos aos agricultores da União Europeia.
Neste caso e até há alguns dias atrás, o Parlamento Europeu tinha permitido que produtos vegetais fossem comercializados com denominações associadas à carne e aos ovos – “hambúrguer”, “salsicha”, “bife”, etc.
Mas, como afirmou recentemente uma eurodeputada da PPE (Grupo do Parlamento Europeu de centro-direita): “Carne é carne, ponto final. Manter os rótulos claros protege os agricultores e as tradições culinárias europeias.”
Porém, apesar do que antecede, foram ainda muitos os eurodeputados que se opuseram, assim como algumas cadeias de supermercados, que consideram que tal imposição pode dificultar o acesso ao mercado desses produtos vegetais, como, por exemplo, “salsicha de soja” ou “hambúrguer de soja”.
Pessoalmente entendo também que devemos ser claros e evitar que ocorram situações em que alguns consumidores comprem gato por lebre (gato ademais criado em condições não permitidas aos agricultores europeus).
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.