Introdução
Figura 1. Lúpulo espontâneo junto a um curso de água
O lúpulo (Humulus lupulus L.) é uma espécie autóctone em Portugal continental. É uma planta trepadeira dioica (existem indivíduos femininos e masculinos), que faz repouso invernal e vegeta desde o início da primavera até ao outono. As flores masculinas são panículas multifloras e as flores femininas espigas de ráquis curto, por vezes designadas cones. Lúpulo espontâneo pode ser encontrando junto a cursos de água, sobretudo no norte e centro do país (Figura 1).
O lúpulo é também uma importante planta cultivada. Para produção comercial usam-se apenas as plantas femininas. Os grânulos de lupulina (de onde se extraem os ácidos usados na indústria cervejeira) encontram-se na base das bractéolas (Figura 2). Em Portugal, no presente, cultiva-se em escala comercial em apenas duas explorações agrícolas na região de Bragança, numa área total aproximada a 12 ha (Figura 3). Os atuais produtores têm instalada a variedade ‘Nugget’, estando a produção contratualizada com uma das cervejeiras nacionais. No país têm vindo a surgir projetos de pequena dimensão focados na produção de variedades aromáticas com a produção orientada para a cervejaria artesanal.
A reduzida importância atual da produção de lúpulo contrasta com a situação que se viveu entre as décadas de 1970 e 1990, em que a produção nacional de lúpulo chegou a satisfazer as necessidades das cervejeiras nacionais. O país, ainda que em poucos anos, foi autossuficiente na produção de lúpulo. Atualmente o grau de autoaprovisionamento não deve ultrapassar os 5%. Este trabalho procura mostrar este contraste e sugerir pistas para que se encontre o caminho para a recuperação desta cultura. De ter-se em conta que a região onde atualmente se cultiva lúpulo não tem encontrado alternativas culturais viáveis. A única cultura que gera receitas é o castanheiro que, por sua vez, se encontra numa fase difícil devido a problemas diversos com doenças e pragas.
Aspetos da agroecologia do lúpulo
A espécie H. lupulus é espontânea em Portugal. Este facto atesta a adaptabilidade da espécie ao território nacional. Contudo, a planta espontânea surge junto a cursos de água, sem limitação hídrica estival. Para ser cultivada em campo aberto e solos com menor teor de matéria orgânica, a planta necessita de ser regada durante a estação de crescimento. Ainda que o trabalho experimental realizado em Portugal sobre a agronomia da cultura seja reduzido, alguns ensaios de adaptabilidade feitos na década de 1960 e a experiência dos atuais produtores revelam que a cultura tem elevado potencial ecológico, sobretudo quando cultivado em zonas mais frescas. Os atuais produtores atingem produções unitárias ao nível do que se consegue nos principais países produtores. Assim, escolhido o local certo e implementada uma técnica cultural adequada, o lúpulo pode ser competitivo à escala global.
Um artigo de Manuel Ângelo Rodrigues
Centro de Investigação de Montanha (CIMO)
Instituto Politécnico de Bragança
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 227 (junho 2019)