Vindimas a começar, esperanças no ar…
Quanto escrevo estas linhas já vários produtores iniciaram as vindimas, quer no Alentejo quer no Douro. Naturalmente que as zonas mais elevadas, onde as maturações são mais lentas, têm o processo um pouco atrasado. A bem dizer é curioso empregar aqui a palavra ‘atrasado’, quando estamos nos primeiros dias de agosto. O título da crónica prende-se com as condições climáticas que temos conhecido, digamos, no último mês. O que tem acontecido é que estamos perante um verão ameno sem grandes choques de calor o que pode fazer adiantar as vindimas. Expliquemo-nos: quando há grandes golpes de calor a videira põe em marcha os seus mecanismos de defesa e a maturação pára, atrasando todo o processo. Como até aqui esses escaldões não se verificaram, a maturação tem decorrido de forma regular (o que é ótimo para conservar a acidez dos mostos) e maturações sem interrupções podem originar vindimas mais precoces. Sabemos que ainda é cedo para o fogueteiro mas, pelo menos, as primeiras impressões são positivas, tal como o são as previsões da vindima com um aumento de produção generalizado. Ainda sem valores seguros, fala-se entre 5% e 10% de aumento, regiões onde haverá pequenas variações (Dão) e outras de grande aumento (Açores), sendo que neste arquipélago a colheita de 22 foi de tal forma residual que este aumento pode não ser muito significativo. Este quadro otimista não nos deve fazer esquecer os acidentes climáticos deste ano, com vinhas do Douro verdadeiramente dizimadas pelo granizo. Os acidentes climáticos têm também afetado outras regiões do mundo, como algumas zonas de França que foram fustigadas pelas geadas de primavera (antigamente uma em cada 10 anos e, agora, 3 a 4 vezes por década…), com situações idênticas em Itália. Quanto mais calor se sente no sul da Europa, mais para norte se deslocam os vinhedos. Hoje há bons brancos na Bélgica e na Bretanha (zonas desde sempre consideradas impróprias para a vinha) e o sul de Inglaterra tornou-se o novo paraíso para a produção de espumantes. A procura mundial destes vinhos de bolhas não tem parado e, para fazer face à procura, foi autorizado este ano um aumento de produção por hectare na região de Champagne. Lembremo-nos que, um pouco à semelhança do que acontece com a produção do vinho do Porto, o Comité Interprofissional de Champagne comunica anualmente o quantitativo a produzir e este ano foram autorizados 11.400 kg/ha. Diga-se que este volume de uvas, numa zona rica que vende os vinhos aos preços que sabemos, pode parecer escandaloso. É que, entre nós, produções deste calibre, quando existem, são ditas envergonhadamente porque sabemos que, em várias zonas do país, chegar às seis ou sete toneladas já é caso para bater palmas. A verdade é que devíamos pôr os olhos em quem faz bem e vende caro, objetivo procurado por muitos e conseguido por poucos, isto numa região (Champagne) que espera vender este ano 314 milhões de garrafas.
A pergunta que fica no ar é: será que as desgraças climáticas este ano só atacaram a Grécia e as Canárias e nos deixaram passar entre os pingos da chuva? Vamos fazer figas, muitas figas. A vindima, esse momento mágico por todos ansiado, aí está […]