Dia Mundial do Inseto Comestível é assinalado este sábado com uma conferência na Nova School of Business and Economics Carcavelos e uma sessão de degustação com sobremesas e entradas de insetos da autoria do chef Chakall
A Portugal Insect – Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insetos assinala, este sábado, dia 26 de outubro, o Dia Mundial do Inseto Comestível organizando uma conferência na Nova School of Business and Economics Carcavelos que irá discutir temas vários, como a inovação alimentar, a perspetiva nutricional dos insetos na alimentação humana, as aplicações culinárias ou os insetos na ementa do currículo escolar, sem esquecer o enquadramento legal na União Europeia. O objetivo é contribuir para a “consciencialização das populações” sobre as “vantagens nutricionais e ambientais” do consumo de produtos alimentares à base de insetos, e o encontro termina com uma sessão de degustação de cinco produtos distintos, como bolos e bolachas, produzidos a partir de farinhas com insetos incorporados, cozinhados pelos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.
Além disso, e com a assinatura do chef Chakall, haverá entradas e sobremesas com base em insetos para encerrar a tarde. Tudo com a devida supervisão e autorização excecional da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, já que o consumo de insetos ainda não é permitido por lei em Portugal. O evento, de acesso gratuito mediante inscrição prévia, está já esgotado, com cerca de 200 participantes inscritos. O objetivo é “mudar mentalidades” e chegar à população através dos jovens e das crianças. O presidente da Portugal Insect acredita que “no espaço de uma geração” toda a temática dos insetos comestíveis será vista com outra naturalidade.
“Com a população mundial em franco crescimento – hoje somos sete mil milhões e estima-se que sejamos nove mil milhões em 2050 – vai haver muita boca adicional para alimentar e vamos precisar de encontrar fontes proteicas alternativas. Precisamos de preparar as mentes para as receber e de fazer uma certa evangelização do próprio setor. O inseto não é mais do que o caracol, que é perfeitamente comestível”, diz Rui Nunes.
Em África e na Ásia, comer insetos é perfeitamente normal. É tudo uma questão cultural. Segundo Rui Nunes, há cerca de duas mil espécies de insetos “comestíveis pelos humanos” e tudo se resume a “escolher bem e procurar a espécie certa e que seja reprodutível em cativeiro”. Restam, então, cerca de 10 espécies, entre vários tipos de grilos e de gafanhotos ou o tenebrião, a chamada larva da farinha. São estas as apostas das nove empresas e startups que integram a Portugal Insect e que têm procurado investir nesta área, embora a título apenas experimental e de investigação, por falta de legislação. A mosca doméstica e o soldado negro, uma espécie de mosca também, são vistos igualmente como interessantes, mas para a alimentação animal.
O uso de farinhas de insetos já é permitido na aquacultura e deverá, algures em 2020, acredita Rui Nunes, ser alargada à alimentação de galinhas e porcos, já que a União Europeia está a preparar legislação nesse sentido. Hoje estes animais são maioritariamente alimentados com farinhas de soja ou de peixe, que são importadas da Ásia. “A nossa alimentação depende de proteínas importadas e há aqui alguma vontade, a nível europeu, de limitar esta dependência e encontrar novas fontes proteicas”, salienta. A própria FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, recomendou, já em maio de 2013, num dos seus relatórios, que os insetos, que são consumidos por dois milhões de pessoas em todo o mundo, são uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com vantagens para a saúde e para o ambiente.
Por outro lado, a criação destes insetos comestíveis em larga escala poderia ajudar, também, à economia circular, na medida em que todos os desperdícios de fruta e legumes dos supermercados, que hoje vão para aterros, poderia servir para alimentar estas espécies, defende o presidente da associação Portugal Insect.
Quanto à autorização da inclusão dos insetos na alimentação humana, Rui Nunes lamenta a existência de dois pesos e duas medidas na Europa, que demora a aprovar os dossiers de segurança alimentar, designadamente dos referentes às várias espécies de grilos comestíveis, impedindo esta área de negócio de avançar, mas permite que os seis países que já produziam insetos antes da publicação do regulamento Novel Food – relativo aos novos alimentos e publicado em novembro de 2015 – o continuem a fazer. Em causa estão a Holanda, a Finlândia, o Reino Unido, a Dinamarca, a Bélgica e a Áustria, que “podem continuar a produzir e a comercializar” insetos comestíveis, ao contrários dos restantes países, como Portugal, “onde as empresas apenas podem ir fazendo experiências”. “Temos associados com produtos já disponíveis para colocar no mercado, sejam barras de cereais e insetos ou bolachas de elevado teor proteico, e que não o podem fazer, só os podem testar e oferecer em eventos como o que vamos organizar sábado”, refere este responsável.
Segundo Rui Nunes, este é um mercado que se estima que possa valer entre 700 milhões a mil milhões de euros em 2024, e, por isso, “nada negligenciável”. “Imagine o que é isso repartido por cinco ou seis países em vez de repartido por todos. É preciso dar a volta a uma situação de profunda desigualdade e não estabelecer que há Estados de primeira e de segunda apenas porque uns chegaram mais cedo ao mercado que outros”, sustenta.
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