Vários jovens reclusos do Estabelecimento prisional de Leiria estão envolvidos num projeto que visa a sua valorização profissional para facilitar a sua reinserção no mercado de trabalho quando saírem em liberdade.
O projeto chama-se “Inclusus” e surge no âmbito de uma parceria firmada pelo estabelecimento prisional e a AdegaMãe.
A parceria contempla não só ações de formação nas vinhas da sociedade agrícola em Torres Vedras, onde o engenheiro agrónomo Amândio Cruz explica aos reclusos como se poda uma videira e os cuidados a ter, bem como a participação no processo de engarrafamento nas instalações da AdegaMãe. Nos seis hectares de terra do estabelecimento prisional, em Leiria, os reclusos fazem a preparação e o acompanhamento da vinha, bem como a vindima.
Para a diretora do Estabelecimento Prisional de Leiria (Jovens), a aposta neste tipo de projetos justifica-se com a importância da valorização da formação com vista à reinserção social. Em entrevista à Renascença, Joana Patuleia afirma que o projeto se insere no âmbito da “prevenção da reincidência”.
“Um dos fatores de risco é o desemprego, pelo que temos que prevenir, promovendo a empregabilidade”, acrescentou a diretora. Estes projetos “visam a promoção das competências pessoais e profissionais no sentido de os jovens conseguirem a reinserção social com êxito”.
Em termos comportamentais, o projeto parece estar a dar frutos. O engenheiro agrónomo da prisão disse à Renascença constatar que “durante o dia, os reclusos libertam o excesso de energias” e “com a convivência, muitos deles chegam à noite, estão cansados e querem é descansar e não querem arranjar problemas.”
Estanislau Ramos revela que “quem os acompanha se apercebe de que, ao longo do primeiro mês, já se nota bastante diferença” pois “ficam mais calmos.” O técnico destaca também o facto de o projeto dar benefícios aos reclusos, pois “podem ir a casa nas saídas precárias” o que “acaba por os acalmar.” Outros “aproveitam mesmo para ganharem ferramentas” pois veem que “ali pode estar uma mais valia para quando saírem em liberdade”.
Mathieu, um dos reclusos participantes, está satisfeito com a oportunidade. Com 28 anos já está habituado à agricultura e pondera enveredar por essa área quando sair. Em declarações à Renascença no dia em que fez uma ação de formação na AdegaMãe, em Torres Vedras, o jovem admitiu gostar da área da agricultura”. Com familiares a trabalhar nesta área, o jovem salientou que “sempre quis aprender e agora estou a aprender.” Para Mathieu, isto “é muito mais do que passar o tempo, porque estamos a ter uma aprendizagem” além de ser o satisfazer de um desejo que nunca pensou vir a concretizar que era “estar a trabalhar na área da agricultura.”
Também Carlos Monteiro está satisfeito. O jovem reconhece que “foi interessante trabalhar com a natureza.” Para Carlos, é importante “trabalharmos ao ar livre” pois “sentimo-nos mais livres da situação em que estamos.” Além disso, como “não sabemos o dia de amanhã”, esta “é uma oportunidade que temos aqui para conseguirmos dar um rumo à vida.” Por isso, pensa mesmo em pedir emprego à AdegaMãe quando sair da prisão.
E a AdegaMãe estará disponível para o acolher e aos outros. A sua ajuda será preciosa, revelou Joana Pedro “até porque há falta de mão de obra especializada neste setor.” A diretora de Marketing e Enoturismo nega que o facto de se tratar de ex-reclusos seja um estigma, até porque “eles tem uma vantagem que é a experiência e o facto de já terem estado envolvidos neste projeto e terem tido formação na área”, o que, para a AdegaMãe, “é uma mais valia.”
O projeto arrancou há um ano com a produção de 2.500 garrafas do Inclusus, prevendo-se que a colheita de 2019 chegue às oito mil garrafas. As garrafas estão à venda na loja do estabelecimento prisional em Leiria, na AdegaMãe, em Torres Vedras e em duas lojas de Lisboa.
Os lucros obtidos com a venda dão à prisão a possibilidade de melhorar a vinha, levando assim a que mais reclusos possam participar.