42 reclusos, 60% dos quais com penas superiores a 10 anos, transitaram para o Estabelecimento Prisional (EP) de Torres Novas na fase final da sua pena e lá podem encontrar, mais do que reinserção, um propósito. E até formação certificada em produção agrícola e agricultura sustentável. Uma horta com um aspeto diferente do habitual – em torres verticais com tecnologias inovadoras – alimenta a população reclusa com alimentos nutritivos, e é um escape para os momentos mais difíceis na prisão.
“Sinto-me feliz pelo projeto, por estar preso não”, conta Pedro Silva, recluso do EP de Torres Novas, a rir, ao SAPO24. “Sinto-me feliz porque é uma mais valia não só para nós, mas para as pessoas carenciadas também”, explica, referindo-se ao projeto de cabazes solidários que serão distribuídos pela comunidade envolvente. “Não se vê a crescer de mês para mês, vê-se de dia para dia”, acrescenta, orgulhoso.
Garante que, se tiver oportunidade, também vai aderir a esta agricultura para seu consumo. É uma agricultura que funciona com torres agrícolas verticais e uma técnica de cultivo aeropónico, sem terra. As plantas são nutridas com uma solução de água e nutrientes aplicada diretamente nas raízes suspensas no ar. Não foi difícil Pedro Silva aprender, porque tem gosto, e já tinha feito alguma agricultura, embora não desta forma. “Sinto-me orgulhoso. Se fosse meu, era ainda mais orgulho, mas sinto-me orgulhoso como os outros companheiros. Mas por acaso sou uma das pessoas que tem mais interesse nisto”, confessa.
O aspeto nutricional também o entusiasma. “Com este projeto, eu vou começar a comer outra vez mais biológico”, conta ao SAPO24. “Gosto muito e sei o que é que vou comer, eu [é que] curo, sei que não tem venenos, não tem remédios… claro que às vezes é preciso por causa de um bichinho ou assim, mas é tudo biológico. E o que é biológico é bom”.
Um dos objetivos do projeto era criar uma “ocupação positiva do recluso”, explica Margarida Villas-Boas, cofundadora da Upfarming, associação sem fins lucrativos que se dedica a projetos de agricultura participativa e que desenvolveu este projeto Horticultura vertical, Solidariedade Horizontal, numa conferência que procedeu à visita do EP, na qual o SAPO24 esteve presente. “Esta horta, nós já vimos nas últimas semanas, tornou-se um local agregador de guardas, de reclusos, um espaço de cumplicidade, de partilha… É uma horta, precisa de ser gerida, há uma gestão ativa, o recluso é convidado a participar nesse sentido, e obviamente que lhe trás aqui um sentido de objetivo, um sentido de missão. É uma ótima preparação para o que o espera lá fora”.
Pedro Silva concorda. “Isto para mim é bom. Por acaso estou muito alegre por causa disto, e já disse isso à diretora. Temos dias piores, e temos dias melhores, e eu agora peço às vezes para vir ao fim de semana”, explica, ao SAPO24, o recluso que também trabalha na Câmara, a cortar mato, trabalho para o qual já “tinha um bocadinho de experiência”, e que considera uma mais valia. “Há pessoas que estão lá que não tinham experiência, e agora são profissionais”.
O projeto Horticultura vertical, Solidariedade Horizontal tem três objetivos: capacitar a comunidade reclusa através da formação em agricultura sustentável, melhorar a qualidade nutricional das refeições servidas na prisão e apoiar 100 famílias em vulnerabilidade extrema, através da distribuição gratuita de cabazes com verduras plantadas pelos reclusos. Mas, pelo caminho, também dá experiência a profissionais e deixa pais orgulhosos.
É o caso de José Tavares, agrónomo da Upfarming descrito pela co-fundadora como “braço direito […]