Os investimentos turístico imobiliários, agrícolas, ferroviários e mineiros, previstos para o concelho de Grândola, no distrito de Setúbal, vão ser debatidos na terça-feira, nesta vila alentejana, numa sessão de esclarecimento promovida por uma associação de defesa do ambiente.
O encontro, que será aberto ao público, é organizado pela associação Proteger Grândola e tem como objetivo “partilhar informação e conhecimento técnico” sobre o impacto dos vários projetos em curso ou previstos para o concelho e “alertar para as consequências, caso não se verifique uma mudança de rumo”.
De acordo com um comunicado enviado à agência Lusa pela organização, o evento, que vai decorrer na sede da associação, em Grândola, a partir das 16:30, vai contar com dois oradores especialistas que “irão apresentar dados sobre a escassez da água e o ordenamento do território”.
Para a sessão foram também convidados representantes da Câmara Municipal de Grândola, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) Alentejo, Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, Agência Portuguesa do Ambiente, Turismo de Portugal, Associação dos Agricultores de Grândola e outras Organizações Não Governamentais (ONG).
Para o presidente da associação, Guy Villax, citado no comunicado, “é surpreendente que não exista qualquer estudo de planeamento estratégico ou de sustentabilidade que avalie o impacto cumulativo de tudo o que está a acontecer” no concelho de Grândola.
“A falta de juízo crítico e a ausência de responsabilização para exigir o cumprimento da lei parecem-me evidentes”, acrescenta o responsável.
No documento, a Proteger Grândola alerta para as “mais de 30 mil camas turísticas” previstas para aquele território, mostrando preocupação em relação a “uma exploração mineira classificada de PIN [Projeto de Interesse Nacional] sem que tivesse havido a necessária consulta à população”.
“A Proteger Grândola tem ainda a informação de que está previsto um traçado novo de ferrovia que esventrará o concelho e destruirá parte do melhor montado do país. Não é conhecido qualquer estudo de impacto ambiental a dez anos que informe a população local — e o país — sobre o que acontecerá ao concelho em 2032”, lê-se no comunicado.
No entender da associação, os projetos em curso irão expor “numerosas carências do ponto de vista das infraestruturas”, nomeadamente a “recolha e tratamento de resíduos, cuidados de saúde e habitação”, além da “escassez de água”.
“Com o consumo de água a aumentar substancialmente por causa dos referidos projetos, mas também empolado por três novos campos de golfe e pelas novas explorações intensivas de abacate e tangerina, o desfecho é fácil de antecipar: faltará a água”, argumenta.
Para a associação, o concelho de Grândola necessita de “um planeamento meticuloso”, caso contrário “enfrentará um grau de pressão sobre o território que o converterá num espaço totalmente diferente — para pior — do território preservado que ainda é hoje”.
Sublinhando que não é “contra o desenvolvimento” deste território, mas que o mesmo “não pode ser deixado às forças do mercado”, a associação defende ainda que os investimentos devem ser regulados e respeitar os princípios de sustentabilidade previstos na lei.
Criada em 2021, a associação de defesa do ambiente Proteger Grândola conta com mais de 90 associados.