Em experiências conduzidas por cientistas no Brasil, as aplicações não causaram efeitos significativos no crescimento, na composição ou no conteúdo mineral da planta – nem na qualidade do grão.
O uso do milho geneticamente modificado para se tornar resistente ao glifosato – um dos herbicidas mais vendidos no mundo – foi rapidamente difundido nos países produtores, particularmente na América do Sul e na do Norte. Mas os questionamentos acerca dos possíveis efeitos adversos da aplicação para essa cultura ainda persistem. Sobretudo, dúvidas relacionadas à qualidade nutricional dos grãos produzidos.
Um estudo recente, publicado na revista Agronomy por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp), Estadual do Centro Oeste (Unicentro) e do Mississippi (nos Estados Unidos), traz novas informações sobre o tema.
“Estudámos as características metabólicas e nutricionais do grão produzido com e sem a aplicação de glifosato. As pequenas diferenças que encontrámos foram basicamente na parte nutricional e nos resíduos que ficaram em algumas amostras nas quais se fez a aplicação sequencial do herbicida”, adianta Leonardo Bianco de Carvalho, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Unesp, em Jaboticabal, e um dos autores do artigo.
O grupo desenvolveu quatro estudos de campo, conduzidos durante duas safras de verão no Estado de São Paulo e no Paraná (2020/2021 e 2021/2022) em três locais: Dracena (2020/2021); Guarapuava (as duas temporadas) e Jaboticabal (2021/2022). Foram utilizadas sementes comerciais de um híbrido de milho transgénico e uma formulação comercial de sal de amónio de glifosato.
Os cientistas mensuraram o crescimento e o conteúdo mineral das plantas, o rendimento das colheitas, a qualidade dos grãos e a presença de resíduos de glifosato e ácido aminometilfosfônico (Ampa), o produto mais comum da degradação do herbicida.
“A aplicação de glifosato no milho resistente ainda é relativamente pouco estudada. Foram relatados efeitos adversos, mas existem poucos dados de estudos robustos para determinar se eles são comuns.”
O trabalho teve o apoio da FAPESP através do Auxílio à Pesquisa concedido a Carvalho.
Metodologia
Nas quatro experiências, foram usados os seguintes tratamentos: não aplicação de herbicida (grupo de controlo); uma única aplicação de glifosato (a 980 gramas de equivalente ácido por hectare); e uma aplicação sequencial de glifosato (a 580g e 980 g de equivalente ácido por hectare, respetivamente). Os tratamentos seguem a recomendação técnica do produto: de acordo com a necessidade, ele pode ser aplicado uma ou duas vezes, no segundo caso, com duas semanas de intervalo.
O herbicida foi aplicado com pulverizadores do tipo mochila, presos nas costas e pressurizados com dióxido de carbono (CO2). As parcelas-controlo foram protegidas da deriva de pulverização de herbicida por plásticos. As amostras dessas parcelas foram recolhidas das duas fileiras […]