Entidades e responsáveis por um projecto ligado aos efluentes das pecuárias vão reunir amanhã na Fonte Boa, em Santarém.
Realiza-se amanhã, dia 20 de Abril, na Estação Zootécnica Nacional, em Santarém, ao longo de toda manhã, um seminário subordinado ao tema: “Efluentes de pecuária: abordagem estratégica à valorização agronómica/energética dos fluxos gerados na atividade agropecuária”.
O seminário conta com a participação de vários convidados, entre eles responsáveis por organismos do Estado e entidades privadas. No final do seminário, e depois de uma mesa redonda para discutir a “Importância da inovação para os desafios do setor”, será lançado um roteiro de “Gestão dos fluxos gerados na actividade agropecuária”.
O texto que pode continuar a ler em baixo é da responsabilidade de Carlos Alberto Cupeto, professor da Universidade de Évora, que também está envolvido neste projecto, que conta como nasceu e que destino pode ter um sector tão importante para a economia e para o meio ambiente em Portugal.
GoEfluentes: um projecto que não pode parar
A ideia do GoEfluentes terá começado no já longínquo 2014, numa circunstância improvável, como muitas vezes acontece, entre poucos, ainda na António Augusto de Aguiar que nessa altura acolhia a FPAS.
A parceria, tornada possível pelo GoEfluentes, envolveu entidades do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (INIAV, ISA, UTAD, UE), Associações de Produtores (IACA, FPAS, APCRF), tecido Empresarial (Alirações, Campoaves, Leal & Soares, Ingredient Odyssey, Valorgado, TTerra).
O primeiro objetivo deste Sumário Executivo é tornar incontornável a integral leitura do Roteiro.
A matéria prima objeto deste estudo, as instalações pecuárias, como infraestruturas onde se produzem efluentes pecuários, estão sujeitas a um enorme acervo de legislação, nem sempre clara; basta-nos saber: segundo a Direção-geral de agricultura e desenvolvimento rural DGADR, são consideradas atividades pecuárias, todas as instalações de reprodução, produção, detenção, comercialização, exposição e outras relativas a animais das espécies pecuárias; assim estão neste conceito não só as explorações pecuárias, mas também os centros de agrupamento de animais (instalações de mercados, leilões de animais; exposição; centros de produção de sémen; etc.) ou os entrepostos de animais (instalações de comerciantes de animais; etc.). Sendo “animais de espécie pecuária”, qualquer animal bovino, suíno, ovino, caprino, equídeo, ave, leporídeos (coelhos e lebres) ou outra espécie que seja criada com o fim de reprodução ou produção de carne, e de outros produtos como o leite, os ovos, a lã, a seda, o pêlo, a pele ou ainda que contribua para o repovoamento cinegético. São considerados também os animais da produção pecuária destinada a criar animais de companhia, de trabalho ou destinados a atividades culturais ou desportivas. Por último, a causa deste trabalho de investigação aplicada, os efluentes pecuários: são resíduos resultantes das atividades pecuárias e, em casos de manuseamento inadequado, representam riscos para a saúde pública e animal, devendo seguir procedimentos de controlo nos núcleos de produção de forma a permitir a correta destinação final para esses efluentes. Neste contexto, a Portaria n.°631/2009 foi criada com o objetivo de estabelecer as normas regulamentares a que obedece a gestão dos efluentes das atividades pecuárias e as normas técnicas a observar no âmbito do licenciamento das atividades de valorização agrícola ou de transformação dos efluentes pecuários, tendo em vista promover as condições adequadas de produção, recolha, armazenamento, transporte, valorização, transformação, tratamento e destino final.
O Capítulo 1 trada, no geral, dos efluentes da atividade pecuária.
Os efluentes pecuários são uma mistura várias fases, líquido, pastoso, semissólido e sólido. Quimicamente os efluentes pecuários contêm diversos nutrientes que passam pelo tracto intestinal do animal, e que têm potencial para serem recuperados nomeadamente nos solos agrícolas. Para além dos nutrientes é interessante o teor de água neles contido, e o teor de matéria orgânica pode ser um fator importante na recuperação da fertilidade dos solos. Contudo, apresentam carga poluente potencial, principalmente centrada na elevada concentração de azoto sob a forma de nitrato e nos teores variáveis de metais pesados, conforme a espécie animal e o tipo de maneio. Para além disso, estes resíduos podem conter os mais variados tipos de microrganismos patogénicos como bactérias, vírus e protozoários (Pinto, 2014). Relevante é o facto de o aumento da população levar à necessidade de utilizar novos métodos e produtos químicos na criação intensiva de animais para a alimentação humana com o intuito de maximizar a eficiência alimentar e reduzir o tempo de criação. De entre esses produtos destaca-se o uso de medicamentos veterinários (terapêuticos e profiláticos) e de substâncias promotoras do crescimento (Sales et al., 2015). A metabolização no tracto digestivo animal destas substâncias é muito vaiável, mesmo quando a molécula é em grande parte metabolizada, alguns dos produtos de degradação excretados podem permanecer bioativos no efluente (Thiele-Bruhn, 2003), com todas as consequências par De acordo com Pinto (2014), a constituição dos efluentes pecuários é variável conforme a proporção de fezes e urina. Para além das características dos dejetos, o tipo de estrume produzido irá depender da qualidade e quantidade de palha ou outros materiais utilizados nas camas dos animais, da proporção de fezes e urina misturados com os materiais utilizados nas camas, da temperatura atingida durante a fermentação e do grau de degradação final da mistura de dejetos e camas. Estes fatores influenciam a composição do estrume de forma a obter um efluente com conteúdo palhoso maior ou menor e mais ou menos ricos em nutrientes. Já a quantidade e características de chorume produzido depende do grau de diluição com as águas de lavagem e outras que podem ser utilizadas nos estábulos, com a urina e com quantidades maiores ou menores […]