“Será que esta solução das centrais de dessalinização é ambiental e economicamente sustentável a longo prazo?”, questiona Alfredo Graça, geógrafo e editor-chefe da Meteored Portugal.
Portugal padece cronicamente daquilo que conhecemos como seca. Todos os anos é comum ouvirmos com bastante frequência, nos meios de comunicação social, o quão gravoso este fenómeno – essencialmente caracterizado pela ausência de precipitação durante um longo período de tempo e que resulta na enorme escassez hídrica para os solos, campos, rios e barragens de uma determinada região – pode ser para a sociedade e economia de um determinado local, região ou país”, começa por descrever Alfredo Graça, geógrafo e editor-chefe da Meteored Portugal (equipa do tempo.pt).
“Daí se geram problemas a vários níveis, nomeadamente, no que toca ao setor agrícola, à pecuária ou até mesmo na questão do armazenamento e abastecimento hídrico, bem como um adequado fornecimento de bens alimentares. Ora, uma das mais badaladas hipóteses para frenar este problema, e que é constantemente apontada como uma das possíveis soluções à ciclicidade de secas que Portugal continental enfrenta, sobretudo nas regiões do Nordeste Transmontano, Alentejo e Algarve – expostas com uma maior frequência a este fenómeno – são as centrais de dessalinização”, avança, explicando que “este tipo de infraestruturas transforma a água salgada do mar em potável, apresentando-se como uma solução fundamental para o combate à escassez de água em regiões áridas, um tipo de região cujo clima é fundamentalmente parecido ao do Norte de África, por exemplo”.
“Aliás, segundo aquilo que é defendido em vários estudos científicos, o Sul de Portugal continental poderá, dentro de poucas décadas, apresentar um clima muito semelhante ao da região setentrional de África, persistindo com maior frequência, duração e intensidade a questão da ocorrência de secas”, observa. E questiona:“Com um país que apresenta mais de 900 km de costa, completamente virada para o Atlântico, porque não se avançou mais cedo para esta solução? Será que esta solução das centrais de dessalinização é ambiental e economicamente sustentável a longo prazo? Se Portugal instalasse mais deste tipo de centrais, que desafios se colocariam?”.
“Desde o início do século XXI que se tem verificado uma frequência, intensidade e duração deste fenómeno, cada vez maior. Fruto das sucessivas secas que Portugal tem vindo a enfrentar, tendo uma das mais severas ocorrido no ano passado (2022), o Governo português decidiu avançar com a construção de uma central de dessalinização na região do Algarve, esperando-se a sua conclusão até março de 2026, no âmbito do PRR (Plano de Recuperação […]