A Comissão Europeia apresentou as Perspetivas Agrícolas da UE para 2023-2035. O documento mostra que, nos próximos anos, a resiliência dos agricultores da UE continuará a ser posta à prova pela evolução das condições climáticas e dos mercados, bem como pela evolução da procura por parte da sociedade.
A multiplicação dos eventos climáticos extremos vai continuar a impactar o crescimento da produtividade agrícola. Por sua vez, o consumo de carne de bovino e de porco, de açúcar e de vinho deverá diminuir.
O impacto das alterações climáticas vai incidir principalmente nas colheitas especializadas, com a produção e qualidade do azeite, vinho, maçã, pêssego, nectarina e tomate a serem afetadas.
A introdução de variedades mais resistentes e de sistemas de produção mais intensivos, assim como a investigação e inovação, poderão reduzir os impactos negativos no azeite. Com um consumo global relativamente estável na UE, as exportações poderão continuar a crescer.
O consumo de vinho na UE continuará a sua tendência decrescente e continuará a diminuir acima de 1% por ano, para cerca de 20 litros per capita até 2035, menos 2,4 litros do que o consumo médio em 2018-2022. Espera-se que isso impacte negativamente a produção. As exportações de vinho da UE poderão continuar a crescer, mas a um ritmo mais lento.
Já consumo de maçã “pode aumentar à medida que os consumidores se voltam para frutas frescas e fáceis de consumir”. Prevê-se que a Polónia e a Itália continuem a ser os principais exportadores e que aumentem as suas exportações líquidas. O consumo de pêssegos e nectarina, por outro lado, pode diminuir devido aos preços mais altos e preferências por outras frutas.
O consumo fresco de variedades menores de tomates deverá aumentar. Durante o período 2022-2035, a UE deverá manter a sua atual posição de importação líquida de tomate para consumo fresco. No tomate, destaca-se ainda que os novos investimentos em Portugal e Espanha poderão levar a maiores rendimentos e superfícies cultivadas no tomate processado.
Cereais, lacticínios e pecuária
As terras em pousio, que beneficiam a biodiversidade, vão aumentar para sete milhões de hectares até 2035. Já a produção de cereais se manterá estável devido, entre outras razões, aos impactos positivos da agricultura de precisão, da rotação de culturas e da melhoria da saúde dos solos, que poderão contrabalançar os impactos negativos das alterações climáticas.
Até 2035, esperam-se também mudanças de cultivo dos cereais para a soja e leguminosas. Esta mudança será impulsionada, nomeadamente, por uma menor procura de cereais para alimentação animal, devido a uma redução da produção de carne de suíno e de bovino na UE e a um aumento dos sistemas de produção extensivos e baseados em pastagens. Os incentivos políticos para apoiar um aumento das proteínas vegetais também apoiarão esta mudança.
Já a procura reduzida por biocombustíveis poderá resultar num declínio dos óleos vegetais e, consequentemente, reduzir as necessidades de importação.
Nos lacticínios, a produtividade europeia de leite deverá continuar a aumentar, mas de forma mais lenta, com a qualidade e a sustentabilidade a gerarem maior valor adicionado no setor. Prevê-se que o bloco comunitário se mantenha um dos dois principais exportadores de lacticínios a nível global.
O relatório nota que a produção de leite poderá diminuir ligeiramente, devido à diminuição do efetivo. Já a produção de queijo, soro de leite e leite em pó desnatado poderá continuar a crescer. A manteiga deverá manter-se estável.
“As escolhas em matéria de estilo de vida e os requisitos de saúde de uma população em envelhecimento irão provavelmente aumentar ainda mais a procura de produtos fortificados (com adição de vitaminas e minerais) e de produtos funcionais que respondam a necessidades nutricionais específicas”, pode ler-se no documento.
O consumo de carne de bovino na UE vai continuar a enfrentar preocupações com os preços elevados, a saúde dos consumidores e a sustentabilidade. Espera-se que este facto, combinado com a baixa rentabilidade, conduza a um novo declínio da produção até 2035. O efetivo total de vacas da UE deverá diminuir 3,2 milhões de cabeças (10%).
O setor da carne de suíno enfrenta uma situação semelhante. Prevê-se que a produção de carne de suíno na UE diminua 0,9 % por ano até 2035, o que corresponde a quase 2 milhões de toneladas em comparação com 2021-2023. O consumo de carne de ovino e caprino manter-se-á relativamente estável, mas a produção e o efetivo da UE diminuirão, conduzindo a um aumento das importações.
As aves de capoeira deverão continuar a beneficiar de um preço mais baixo, de uma imagem relativamente mais saudável e da ausência de restrições religiosas. Juntamente com novas oportunidades de exportação, tal faria aumentar a produção deste tipo de carne até 2035.
O relatório analisou a produção, o consumo e o comércio nos setores das culturas arvenses, dos laticínios, da carne, do azeite e do vinho, bem como o rendimento agrícola. A análise teve como base as políticas agrícolas e comerciais em vigor em setembro de 2023.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.