A quebra nas vendas oscila entre 40% e 50% e só não vai a mais porque o setor pecuário tem sido a boia de salvação deste património imaterial.
Os chocalhos foram classificados pela Unesco como Património Imaterial da Humanidade há cinco anos, mas a pandemia levou a crise à arte chocalheira de Viana do Alentejo. A única casa a fabricar os chocalhos já reduziu os funcionários a metade e o cenário só não piorou porque o ano de chuva animou o investimento na pecuária, levando à compra de mais chocalhos para localizar o gado nas pastagens
Eis as duas razões que arrastaram os chocalhos para as badaladas da crise, apontadas por Guilherme Maia, gerente da casa Chocalhos Pardalinho, nas Alcáçovas, a capital da arte chocalheira no concelho de Viana do Alentejo: “A pandemia acabou, de forma abrupta, com as feiras e com o turismo, o que nos prejudicou as vendas”, revela, já com saudades dos tempos em que a sua fábrica se enchia de visitantes.
Ouça a reportagem de Roberto Dores
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Sobretudo à boleia da promoção conferida pela classificação da Unesco, os turistas passaram a incluir a arte chocalheira nos seus roteiros pelo Alentejo. “Vinham ver como se faziam os chocalhos e acabavam por comprar”, acrescenta Guilherme Maia, que chegou a ter 12 colaboradores, mas hoje não vai além de seis.
“Isto foi uma contrariedade para todos. Para quem ficou sem os postos de trabalho e para nós, que investimos muito do nosso tempo a formar pessoas”, lamenta, acrescentando que, perante a falta de receitas, “cada um teve de seguir o seu caminho e foi tudo por água abaixo.”
A quebra nas vendas oscila entre 40% e 50% e só não vai a mais porque o setor pecuário tem sido a boia de salvação deste património imaterial. Explica o gerente que em boa hora a chuva regressou ao Alentejo, tendo contribuído para animar a atividade pecuária.
“Quem continua a alimentar a arte chocalheira são os produtores de bovinos e ovinos”, diz, justificando que o facto da intensa pluviosidade ter acabado com a seca no Alentejo e enchido as barragens da região “é altamente motivador para os agricultores”, que vão precisar de mais chocalhos para localizarem o seu gado, perante um ano que se adivinha rico em alimentos para os animais. “Se não fossem os produtores de gado, se calhar, tínhamos de pensar em fechar a fábrica, porque não conseguíamos ter receitas em nenhumas.”
Ainda assim, Guilherme Maia acredita que depois da pandemia os chocalhos irão entrar rapidamente em retoma, dando continuidade à tendência que antecedeu a crise com chegada do coronavírus. Justifica a convicção com os resultados obtidos em janeiro de 2020. “Foi o mês em que mais faturámos e havia a perspetiva da procura crescer muito. Por isso, acho que, quando isto acalmar, vamos voltar a ter a empregabilidade que tínhamos”, vaticina.
Recorde-se que os chocalhos correram o risco de extinção, mas a classificação da Unesco que lhes conferiu o estatuto de Património Imaterial da Humanidade e com Necessidade de Salvaguarda Urgente ajudou à sobrevivência desta arte secular.