A associação ambientalista Zero alertou hoje que há áreas classificadas da Rede Natura 2000 que estão ameaçadas por mais de 130 mil hectares de regadio, e dá parecer negativo a um estudo de expansão do regadio no continente.
O estudo em causa esteve em consulta pública até à semana passada e contempla a expansão do modelo de intensificação agrícola de Alqueva a todo o país, com criação de novas áreas de regadio no Norte, Centro e Alentejo. Na semana passada outras cinco organizações ambientalistas também já tinham dado parecer negativo ao estudo e alertado para a “preocupante expansão” do regadio.
Coordenado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), com envolvimento de estruturas do Governo, de associações de regantes e de empresas, o estudo (“Regadio 2030: Levantamento do Potencial de Desenvolvimento do Regadio de Iniciativa Pública no Horizonte de uma Década”) é a base para o programa nacional de regadios para a próxima década.
A Zero lembra, em comunicado, que o estudo propõe um investimento entre 790 milhões de euros e dois mil milhões de euros para o melhoramento de regadios existentes em todas as regiões do país e para a criação de novos regadios, “com uma expansão das áreas regadas por aproveitamentos hidroagrícolas de 127 mil hectares”.
Alerta a associação no comunicado hoje divulgado que dos 99 novos regadios, mais de 20 irão afetar áreas incluídas na rede Natura 2000, rede europeia de áreas protegidas.
“Um terço dos projetos para novos regadios integram áreas classificadas, incluindo Zonas de Proteção Especial (ZPE) e Zonas Especiais de Conservação (ZEC) pertencentes à rede Natura 2000. As sobreposições abrangem várias áreas da Reserva da Biosfera Meseta Ibérica, dois Parques Naturais (Vale do Tua e Douro Internacional), sete ZPE e 12 ZEC”, alerta a Zero no comunicado.
A conservação nestas áreas, nota a associação ambientalista, não é conciliável com o regadio e a intensificação agrícola defendida no estudo, que leva à destruição de habitats e degradação da biodiversidade.
Numa análise ao trabalho que esteve em consulta pública a Zero também aponta que o mesmo não contempla soluções para os agricultores nos territórios mais vulneráveis às alterações climáticas, à desertificação e ao despovoamento, e chama a atenção para o “aumento abrupto” de área regada e de consumos exponencialmente maiores de água.
Na semana passada cinco outras organizações ambientalistas (Geota, ANP/WWF, SPEA, LPN e proTejo) já tinham considerado que o estudo é setorial, “com objetivos estritamente económicos, não integrando as componentes ecológicas e sociais enfatizadas pela nova Política Agrícola Comum Europeia”, nem colocando em contraponto a produtividade agrícola e a preservação dos recursos hídricos, do solo e a biodiversidade, nem tendo e conta o património cultural e natural.