É estranho que o País não faça uma gestão integrada dos recursos hídricos disponíveis. Entretanto, face à pressão existente, sobretudo devido aos exigentes e elevados consumos do nosso modo de vida, é certo que os aquíferos correm sérios riscos de sobre-exploração. É tradição em alturas de seca lembrarem-se de que há água no subsolo
Em matéria de água devemos começar por estar cientes que a água que corre no rio, que está no poço, ou que banha as areias da praia é a mesma. A água é só uma, o ciclo da água explica-o; embora se deva questionar se ciclo da água ainda existe ou, se a água é, cada vez mais um recurso não renovável? Este simples e inequívoco facto, a mais das vezes, é ignorado e isso é um erro de gestão que nos custa muito.
O ciclo da água é vulgarmente tratado e gerido por cada uma das suas fases, individualmente. Como se a água do rio nada tivesse a ver com a água do poço ou furo. Os aquíferos, como reservatórios naturais de água, são disso o melhor exemplo. Na verdade, a parte subterrânea do ciclo da água é discreta e essencialmente oculta. Talvez por isto é normalmente ignorada e particularmente maltratada, excetuando em períodos de escassez. Desde logo convém deixar muito claro que as águas subterrâneas não são um mundo à parte, são uma componente, mais ou menos significativa do ciclo da água, dependendo do contexto geológico. Na dimensão global esta componente do ciclo da água, a subterrânea, corresponde a cerca de 98% da água doce disponível no planeta Terra.
Este dado, que será surpreendente para o comum dos leitores e para muitos “especialistas”, deve bastar para se compreender a importância das águas subterrâneas. Considerando o clima e a geologia de Portugal as águas subterrâneas assumem importância acrescida. Temos uma estação seca prolongada e quente, cada vez mais extremada, o que nos convida a olhar para os aquíferos, devido ao seu maior poder de regulação, comparativamente à hidrografia. Por outro lado, os principais aquíferos do País, Tejo – Sado, Orla Ocidental e Sul, situam-se, por contingência geológica, nas zonas mais populosas de Portugal e por isso mais exigentes em matéria de disponibilidade de recursos hídricos.
Por tudo isto, e ainda, pelo tempo de escassez hídrica que vivemos, pelo aumento do risco devido à alteração climática, é estranho […]