Aproximando-se 2021 rapidamente do seu termo, será certamente um ano que não vai deixar saudades e que termina de uma forma que não era previsível há uns meses atrás: matérias-primas, transportes, logística, embalagens, todos os custos de produção em alta, numa espiral que parece não ter fim, em que o Céu é o limite, com graves constrangimentos, energéticos, também de mão-de-obra e disrupção nas cadeias de abastecimento como nunca conhecemos, não sendo comparável a qualquer situação de crise, económica ou financeira que tenhamos vivido num passado recente; por outro lado, o acentuar da pandemia, com novos casos e restrições no funcionamento da economia e da sociedade, deixa antever um 2022 muito difícil e complexo, que nos vai colocar a todos à prova.
Temos de continuar a ser resilientes, sendo certo que o próximo ano continuará a ser marcado, sobretudo se a pandemia continuar a não dar tréguas, pela incerteza e instabilidade, por custos em alta e a necessidade de aumentar os preços ao consumidor e um equilíbrio, muito complicado, entre os agravamentos e o limiar da redução do consumo. Aparentemente, os sinais de Bruxelas parecem privilegiar a via do ajustamento pelo mercado, apontando para medidas nacionais, ao critério de cada Estado-membro, sem equacionar medidas comuns de apoio à pecuária, designadamente no leite ou na carne de porco.
E o equilíbrio passará, inevitavelmente, pela redução da oferta, ou seja, menos efetivos, maior dependência, vulnerabilidade e exposição à conjuntura internacional.
Seguramente, um País mais empobrecido!
Por outro lado, neste ano ainda de “má-memória”, em particular no segundo semestre, para além de todas as dificuldades e constrangimentos, ainda tivemos de lutar contra a ignorância e a desinformação em áreas tão relevantes como o impacto ambiental da nossa atividade, o bem-estar animal, as exportações de animais vivos, a resistência antimicrobiana ou a proibição de determinados produtos nas cantinas escolares, diabolizando o consumo de produtos de origem animal.
Jornalistas, opinião pública ou publicada, ONG, partidos políticos…, ninguém cuidou de verificar os factos e as bases científicas, os sistemas de produção em Portugal, quando comparados com outros a nível mundial, se todos os dias trabalhámos ou não, com o melhor do nosso esforço, para que nunca faltassem alimentos nas explorações ou nas mesas dos portugueses, em prol do desenvolvimento económico de Portugal e do bem-estar dos nossos concidadãos; se em Portugal, membro da União Europeia, dispomos de níveis de segurança alimentar, bem-estar animal, ambiente, rotulagem, transparência e valores, humanos ou outros, sem comparação com qualquer país fora do espaço europeu, sem paralelo a nível mundial.
Ninguém se preocupou igualmente em conhecer a posição do Setor sobre temas tão relevantes como a revisão da PAC e o PEPAC, o Pacto Ecológico Europeu e a Estratégia “Do Prado ao Prato” ou da Biodiversidade, a desflorestação, a educação alimentar (ou a falta dela), que acolhemos as propostas, naturalmente que temos posições a defender, legítimas, mas que estamos a trabalhar para sermos parte da solução, queremos contribuir para o desenvolvimento sustentável e ir ao encontro dos desafios societais, no interesse das preocupações dos consumidores. De resto, é esta a razão da nossa existência; é para isso que investimos e assumimos cada vez uma responsabilidade social, económica e ambiental. Sermos competitivos e contribuir para um Portugal melhor, mais justo e inclusivo.
Salvo algumas exceções, o muito que o setor produziu, inovou e transformou, passou despercebido ao nível da opinião pública e os decisores políticos, com a falta de coragem e a hipocrisia costumeira, preferiram o politicamente correto, a “espuma dos dias” .
Temos bons exemplos no quadro dos Laboratórios Colaborativos, Grupos Operacionais, Centros de Competências, relatórios de sustentabilidade, Prémios de Agricultura, de excelência em todas as áreas do agroalimentar, que passaram ao lado da opinião pública e foram esquecidas, como se não tivéssemos um Setor em Portugal, moderno, aguerrido, sem medo de competir com os melhores.
Em geral, é verdade que comunicámos muito para dentro, para os meios mais especializados, pouco passou nos meios generalistas, apenas os incidentes, as crises ou as má-práticas, que, infelizmente, existem e têm de ser exemplarmente punidas. O mesmo aconteceu ao nível da alimentação animal, em que os media só se preocuparam com os aumentos de preços, a inflação, o desemprego ou o impacto da Covid-19.
Provavelmente, numa sociedade de abundância, em que tudo parece adquirido e nada falta nas prateleiras dos talhos ou dos supermercados, com um público urbano, com a visão idílica do Mundo Rural, cada vez mais longe dos sistemas de produção, já não é suficiente vincarmos a importância socioeconómica. Temos de ir mais longe, mostrar e demonstrar os compromissos e metas que queremos atingir, com base na tecnologia, inovação e investigação, em estreita cooperação com as autoridades, à luz da nossa realidade e do que queremos ser enquanto País.
Vivemos assim num tempo de causas, tendências, opiniões voláteis, em que todos opinam e comentam, especialistas de tudo e de nada, amplificadas pelas redes sociais, condicionada pelos influencers e pelo ruido, que alimenta a ignorância e o desconhecimento. Que se permite, por exemplo, que um jornalista como o José Rodrigues dos Santos dê uma entrevista ou publique um livro em que, para além de culpar a atividade pecuária por tudo o que está errado no Mundo, destacando as alterações climáticas, em que a atitude correta seria a de não comermos produtos de origem animal, vai mais longe no seu delírio e compara os matadouros às atrocidades sofridas pelos judeus nos campos de concentração de Auschwitz ou os Gulags.
Para além de um atentado à nossa inteligência, também este jornalista não se deu ao trabalho de consultar fontes credíveis, do ponto de vista do rigor científico, analisar a importância da atividade pecuária desde os tempos ancestrais, a relevância de dietas equilibradas, em que os produtos de origem animal devem ter o seu papel e o seu contributo para a evolução da raça humana, o valor ambiental da atividade e a sua ligação aos ecossistemas.
Já foi dada a resposta adequada a este jornalista, quer por algumas Associações, incluindo a IACA, quer pelo Presidente da CAP, no Observador.
No entanto, face aos desafios que temos pela frente e ao que nos espera em 2022, com eleições legislativas, uma agenda ambiental e animalista que não raras vezes parece desproporcionada e pouco razoável, fundamentalista, a única resposta possível é a luta pelo contraditório, a força das nossas convicções, sem medos, assente na verdade e recusando a hipocrisia.
Para que os consumidores e a Sociedade possam decidir em consciência e livremente.
Não teremos quaisquer problemas em abrir as portas das nossas empresas a quem nos desafia e não nos conhece. Porque nos orgulhamos do que produzimos.
Em 2021 perdemos muito tempo e energia em reagir. Em 2022 temos de agir, comunicar em conjunto.
Fazer da Comunicação a prioridade estratégica, sob pena de nos arrependermos e olharmos para o que poderíamos ter feito. Para que não seja tarde de mais!
Boas e Festas Felizes.
Fonte: APICARNES