Recentemente, a Suécia surpreendeu o mundo ao inverter a marcha da digitalização no ensino. Depois de anos a investir em tablets e plataformas digitais nas escolas, decidiu regressar aos livros, ao papel e à caneta.
A decisão, aparentemente contra a corrente tecnológica, baseia-se num diagnóstico claro: a digitalização, quando aplicada sem reflexão crítica, comprometeu aprendizagens essenciais, reduziu a concentração e fragilizou competências básicas. Foi preciso recuar para reencontrar o equilíbrio.
Esta decisão é um espelho poderoso para o que se passa hoje na agricultura. Fala-se de “transição digital”, de sensores, drones, algoritmos e inteligência artificial. O discurso dominante vende a ideia de que o digital é sinónimo de progresso inevitável. Mas será mesmo assim? Ou estaremos, como os suecos, a correr atrás de uma promessa tecnológica sem perceber o que deixamos para trás?
A agricultura, tal como a educação, não pode perder de vista o essencial: produzir alimentos com qualidade, respeitar os ciclos naturais, valorizar o saber acumulado de gerações.
O digital é uma ferramenta, não um fim em si mesmo.
Tal como a Suécia percebeu que os livros são insubstituíveis para formar leitores competentes, também nós devemos reconhecer que a enxada, o olhar atento do agricultor, a experiência prática e o conhecimento local não podem ser substituídos por aplicações num telemóvel.
O que importa, afinal, é o equilíbrio. O papel não exclui o digital na escola, tal como o saber tradicional não exclui a inovação no campo. A lição sueca recorda-nos que a tecnologia só tem valor quando está ao serviço de objetivos claros e de pessoas preparadas para usá-la de forma crítica.
Na agricultura, isso significa que a digitalização deve andar lado a lado com a formação, a valorização do conhecimento empírico e o respeito pelo território. Sem isso, corremos o risco de criar agricultores dependentes de software, mas incapazes de interpretar o céu, o solo ou a planta, assim como, alunos que sabem usar um tablet, mas não sabem interpretar um texto.
Talvez o futuro esteja menos em escolher entre papel ou digital, entre tradição ou inovação, e mais em saber combiná-los. Porque, no fundo, tanto na sala de aula como no campo, o essencial não mudou: aprender bem e produzir bem são sempre tarefas humanas.
Fonte: APIC