A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em parceria com a Global Footprint Network, atualiza os dados relativos à pegada ecológica de Portugal. Este ano, Portugal piorou no impacto da sua pegada ecológica, por comparação com os anos anteriores. Segundo os dados apresentados este ano (que têm por base o ano de 2023 e algumas estimativas), Portugal começa a exceder os recursos disponíveis para alimentar o nosso estilo de vida a 5 de maio, o pior resultado dos últimos anos, sendo que em 2024 o mesmo aconteceu a 28 de maio.
De uma forma mais concreta, se cada pessoa no Planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos. Tal implicaria que a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos a nível mundial esgotar-se-ia no dia 4 de maio. A partir daí seria necessário começar a usar recursos naturais que só deveriam ser utilizados a partir de 1 de janeiro de 2026.
Portugal é, já há muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo). Infelizmente, a ligeira tendência positiva registada na “dívida ambiental” portuguesa em 2024 não se manteve este ano e Portugal volta a piorar o seu desempenho para valores mais preocupantes do que os registados em anos anteriores a 2024 (em 2022 e 2023 o dia da sobrecarga de Portugal foi a 7 de maio). Muito provavelmente, a diferença dos resultados ficar-se-á a dever aos dados usados, sendo provável que os divulgados no ano passado refletissem o período da pandemia, altura em que se registou um significativo abrandamento da produção e consumo.
Este resultado também aproxima Portugal da média da União Europeia (UE) que este ano teve o seu dia da sobrecarga do planeta a 29 de abril.
A origem do problema
De uma forma global o nosso modelo de produção e consumo que suporta o nosso estilo de vida é responsável por este desequilíbrio. O consumo de alimentos (30% da pegada global do país1) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da Pegada.
Como reduzir a dívida ambiental Portuguesa (e de todos nós)
Existem medidas e ações que podem e devem ser implementadas para começar a inverter a tendência de antecipação do dia no ano em que Portugal tem de começar a usar o cartão de crédito ambiental, entre elas:
• Apostar numa agricultura promotora da soberania alimentar que aposte na produção de alimentos de qualidade; no aumento da produção de proteína vegetal – leguminosas -, na preservação dos solos, na redução da poluição e do uso de água e que promova a valorização de serviços de ecossistema.
• Aproveitar o potencial de redução de deslocações e viagens (em particular as feitas por avião) através do teletrabalho e da realização de eventos habitualmente presenciais, em formato virtual.
• Investir de forma decisiva na criação de infraestrutura que permita uma muito mais significativa utilização de modos suaves de transporte, em particular incentivando o uso da bicicleta e eventualmente combinados com o transporte público.
• Regulamentar para que os produtos colocados no mercado sejam sustentáveis. Por exemplo, implementar normas de durabilidade, garantias do direito a reparar e atualizar, de reutilização e reciclabilidade. Já estão a ser dados alguns passos neste sentido (com aprovação de legislação pela EU), mas agora é fundamental a sua implementação e fazer com que impacte na vida das pessoas e na economia Portuguesa.
E onde é que cada um de nós pode fazer a diferença?
• Reduzir a presença de proteína animal na alimentação: os dados para Portugal indicam que cada português consome cerca de três vezes a proteína animal que é preconizado na roda dos alimentos, metade dos vegetais, um quarto das leguminosas e dois terços das frutas. Aproximar a nossa dieta à roda dos alimentos reduz, de forma significativa, o impacto ambiental associado à alimentação e é mais saudável.
• Movimentarmo-nos de forma sustentável: privilegiar os transportes coletivos, andar de bicicleta, a pé, e claro, reduzir ou eliminar mesmo as viagens de avião substituindo nomeadamente as reuniões por videoconferência.
• Consumir de forma mais circular: é fundamental mudar o paradigma de “usar e deitar fora”, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de “ter menos, mas de melhor qualidade”, com um forte enfoque na redução, reutilização, troca, compra em segunda mão e reparação.
O que é a pegada ecológica
Tal como um extrato bancário dá indicação das despesas e dos rendimentos, a Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais e compara-as com a capacidade da Terra para fornecer tais recursos e serviços (biocapacidade).
A Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (por exemplo, o dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis). A biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.
Fonte: ZERO