As diplomacias de Alemanha e França acusaram hoje a Rússia de minar a segurança alimentar global, após a não renovação por Moscovo dos acordos de exportação de cereais no mar Negro e dos ataques contra instalações portuárias ucranianas.
A ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, afirmou hoje que os bombardeamentos russos em Odessa, epicentro das exportações cerealíferas ucranianas, “atingem os mais pobres do mundo”.
“Mesmo que a via do mar Negro seja dificilmente substituível, apoiamos o Presidente [ucraniano] Volodymyr Zelensky e a Ucrânia (…) a encontrar vias de transporte alternativas. Por exemplo, através das linhas de solidariedade da União Europeia por via fluvial, ferroviária e rodoviária”, disse na rede social Twitter.
Na sequência de um anterior ataque na terça-feira, na última noite foram destruídas nos ataques russos cerca de 60.000 toneladas de cereais destinados à exportação e armazenados do porto ucraniano de Tchornomorsk, perto de Odessa, afirmou o ministro da Agricultura ucraniano.
“Será necessário pelo menos um ano para reparar integralmente as infraestruturas danificadas. No porto de Tchornomorsk, também foram destruídas 60.000 toneladas de cereais e que deveriam ter sido expedidas há 60 dias através do corredor cerealífero”, anunciou Mykola Solsky em comunicado hoje divulgado na página digital do seu ministério.
“A infraestrutura cerealífera dos negociantes e transportadores internacionais foi a mais atingida”, prosseguiu, considerando que “a segurança alimentar mundial está de novo em perigo” com os ataques alegadamente dirigidos às estruturas ucranianas relacionadas com a exportação de cereais.
A francesa CMA-CGM ou o grupo canadiano Viterra incluem-se entre as empresas cujas infraestruturas sofreram danos, segundo o ministro.
Também a França condenou hoje a decisão russa de acabar com a sua participação no acordo de exportação de cereais ucranianos, dizendo que Moscovo deveria “parar com a sua chantagem sobre a segurança alimentar mundial”.
“A Rússia é a única responsável por bloquear a navegação neste espaço marítimo e está a impor um bloqueio ilegal aos portos ucranianos”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França em comunicado, instando a Rússia a “reverter sua decisão”.
Moscovo anunciou na segunda-feira o fim “de facto” do acordo para exportação de cereais ucranianos, considerados cruciais para a alimentação mundial, dado que a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou repetidamente os obstáculos à exportação de alimentos e fertilizantes russos, que deveriam acompanhar os produtos ucranianos.
Anne-Claire Legendre, porta-voz do Quai d’Orsay, afirmou que a França continuará “com seus parceiros, a intensificar sua ação para reduzir os riscos de insegurança alimentar que pesam sobre as populações mais vulneráveis em todo o mundo”.
Também hoje, cinco vizinhos da Ucrânia apelaram à União Europeia que permita o prolongamento das restrições que impuseram às importações de cereais ucranianos para proteger as suas agriculturas para além de 15 de setembro, a data em que expira a medida.
“Assinámos uma declaração comum de cinco países – Polónia, Bulgária, Hungria, Eslováquia e Roménia – sobre o prolongamento do embargo às importações (…) de cereais da Ucrânia nos nossos países até ao final do ano”, declarou o ministro da Agricultura polaco, Robert Telus, após uma reunião com os seus homólogos em Varsóvia.
A ofensiva militar russa em curso no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.