Moçambique mantém o padrão de produção do período colonial na agricultura, exportando mais culturas de rendimento e importando mais alimentos, paradigma que torna o país vulnerável a choques externos nos bens essenciais, refere um estudo hoje apresentado em Maputo.
“Ainda temos o desafio de mudar a forma como esta economia de Moçambique foi estruturada para servir os interesses coloniais”, disse Constantino Marrengula, economista e pesquisador, que divulgou hoje o “Estudo sobre a economia política do setor da agricultura”, elaborado pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) de Moçambique, uma instituição de pesquisa independente.
Marrengula avançou que a produção nacional de algodão, tabaco, castanha de caju e açúcar suplanta a dos alimentos, cujo abastecimento é fundamentalmente assegurado por importações.
“Ficámos em maior vulnerabilidade, porque não estamos a conseguir produzir e aumentar os recursos na produção de bens alimentares”, enfatizou Marrengula.
O facto de o défice orçamental do Estado moçambicano ser financiado por parceiros internacionais, as culturas de rendimento gerarem receitas imediatas e as importações assegurarem ganhos a interesses privados com influência sobre as lideranças políticas pode ajudar a explicar o modelo de produção seguido na agricultura do país, acrescentou.
“Os interesses que giram em torno das importações de produtos alimentares têm de ser tidos em conta”, na influência que exercem sobre a baixa produção interna e “nas escolhas do governo e dos doadores”, sublinhou aquele pesquisador.
Constantino Marrengula assinalou que a prioridade nas culturas de exportação nota-se igualmente na alocação de recursos públicos, que são maioritariamente canalizados para ações tendentes a maximizar os ganhos naquele tipo de produção em detrimento da alimentação.
“Os investimentos com maior pujança e os recursos andam em volta destas culturas de rendimento”, sustentou Marrengula.
O pesquisador alertou para o risco de o paradigma de produção seguido em Moçambique na agricultura perpetuar a pobreza, porque a dependência em relação à importação de alimentos encarece os produtos para as camadas mais pobres.
“Não se consegue combater a pobreza, quando os alimentos ficam mais caros, porque são importados”, frisou.
“Globalmente, diria que há poucos recursos alocados àquelas áreas que podem fazer uma transformação estrutural daqueles setores que produzem bens alimentares”, salientou.
Apontou o caso das infraestruturas de irrigação de campos destinados à produção de alimentos, como exemplo de uma canalização insuficiente de recursos nesta área.