Num país com recursos finitos, promover a partilha, a integração e as rotinas para a ação conjunta é decisivo para que as respostas de proximidade não falhem, em todo o território.
Por uma última vez, por ser chover no molhado da ligeireza nacional do escrutínio das opções políticas e das consequências, volto ao tema da extinção dos Governos Civis concretizada pelo governo de direita de Passos Coelho e Paulo Portas, agora que recrudesce o debate sobre os incêndios e a incapacidade para gerarmos maior resiliência face aos riscos. Não, descansem os agitados, que não se trata de nenhuma defesa de tacho ou ambição, por estar demasiado bem nas funções privadas em que estou há quase uma década. A tragédia da extinção dos governos civis teve impactos estruturais na realidade concreta das comunidades e dos territórios, mesmo em espaço urbano.
A cifra dos 5,5 milhões de euros é quantos os bombeiros voluntários do distrito de Lisboa deixaram de ter do Governo Civil nestes 11 anos desde a sua extinção por ofício a título de um populismo irresponsável de alegadas poupanças nas gorduras do Estado. O governo civil de Lisboa tinha um orçamento anual de cerca de 5 milhões de euros, dos quais apenas 500 mil eram oriundos do Orçamento de Estado. O restante valor resultava de receitas próprias, sendo investidos anualmente 500 mil euros em equipamentos e serviços comuns para os bombeiros do distrito e outros 500 mil euros nas forças de segurança e em projetos de coesão social, que mudaram a vida algumas crianças e jovens, uns campeões de judo, outros na seleção nacional de rugby.
Além da perda de investimento complementar nas corporações, que são o pilar essencial da proteção civil, deixou-se de ter um pilar de integração, de coordenação e de mobilização da diversidade de entidades presentes nos territórios rotinados por regra ao trabalho na base da quintinha, da preservação e defesa dos seus pequenos poderes, sem uma visão acima dos municípios, algo quem acontece com diversas estruturas da organização do Estado que emanam de baixo. Cada um pensa no umbigo, em primeiro lugar.
A crença de que uma coordenação operacional bastaria para lidar com um território compartimentado, desordenado e desertificado foi é e será sempre uma falácia.
Um Estado e um território compartimentado em que o esforço de integração, de geração de rotinas de partilha e de ação em conjunto é torpedeado por opções políticas, desigualdades e impossibilidades que destroem o espírito de corpo necessário em situação de emergência. Não é à toa que na pandemia […]