João Paulo Martins escreve sobre a moda dos vinhos rosés. Será passageira ou terá vindo para ficar?
Recentemente um amigo meu foi pai, pela terceira vez. Nasceu uma menina. Na brincadeira perguntei-lhe se tinha comprado roupa cor-de-rosa. De sorriso matreiro disse-me que sim mas, na sequência da loucura que por aí grassa, já se interrogou se não estará a condicionar as escolhas futuras da jovem. Lembrei-me disto porque o vinho rosé foi durante décadas apelidado “vinho para senhoras”, ora por causa da cor, ora porque era mais leve, ora porque tinha pouco álcool, ou seja, uma carrada de ideias e preconceitos que, nos tempos que correm, dariam direito a invetivas públicas.
Em boa verdade o rosé tem-se alterado muito, sempre ao sabor das modas. Há uns dias estive na apresentação de mais um, por sinal bastante descorado. Esta é uma das tendências da moda ditada pela Provença francesa: alguns rosés dessa região do sul quase parecem água, de tal forma são descorados. São piores por causa da cor? Não, mas como os olhos também bebem há quem vire as costas a este modelo. A outra tendência da moda é os vinhos surgirem a público com muita redução, que é exatamente o contrário de oxidação. Por falta de micro-oxigenação, os vinhos ganham cheiro de fósforo queimado ou pólvora. É algo que se resolve com arejamento e decantação mas, diga-se, não são práticas habituais nos vinhos rosados. Cada vez há mais vinhos que apresentam esta característica, tida por alguns como muito válida mas… para quem quer beber um bom rosé, o nariz começa a torcer-se. […]