Dentro de 10 anos terão passado 200 desde que David Ricardo, para ilustrar a teoria das vantagens comparativas, colocou frente a frente Portugal e Inglaterra com a produção de vinho e de tecidos.
Hoje, a região do Alentejo em geral e de Beja em particular, vive um momento de grande dinamismo e de grande interesse por parte de investidores nacionais e estrangeiros.
O “Alqueva” ao trazer a água, trouxe uma enorme oportunidade de investimentos em produções agrícolas altamente competitivas no cenário internacional. Trouxe também a concretização de uma matriz de produtos agrícolas mais diversa e, sobretudo, muitíssimo mais competitiva.
Agora, há que questionar se os agentes com capacidade de desenvolvimento e intervenção ao nível local e regional — os municípios, as universidades, a CCDRA e as associações empresariais — têm a vontade e a motivação de criarem as condições para a multiplicação e sustentabilidade desta enorme oportunidade que lhes está a ser oferecida.
Está em causa a região ser capaz de atrair, desenvolver e fixar competências à cadeia primária de valor. Ser capaz de estimular a investigação aplicada às várias produções agrícolas em crescimento. Ser capaz de atrair a instalação de empresas tecnológicas, incluindo instalação e aceleração de start ups, com projectos em áreas como a eficiência na utilização de recursos hídricos, na melhoria de processos e transformação dos produtos agrícolas, eficiência energética. Ser capaz de influenciar o estabelecimento de soluções intermodais de transportes de mercadorias. Ser capaz de fomentar e apoiar o estabelecimento de soluções competitivas de acesso aos mercados!
Em suma, será a região e os seus diversos agentes capazes de darem densidade e profundidade a esta vaga positiva de investimentos de que tem sido beneficiada? Aumentando as externalidades positivas, ao mesmo tempo que se controlam as negativas como os impactos ambientais?
A história económica mostra-nos que a aplicação da teoria das vantagens comparativas não nos foi favorável. Não deixemos que a história se repita.
Nem sequer há que “inventar” nada, vários são os exemplos de regiões europeias que souberam (têm sabido) interpelar os agentes de desenvolvimento.
Exorto a região (públicos e privados, entidades e cidadãos) a estabelecer o ponto de encontro e a acção concertada e efectiva!
Miguel de Sousa Otto
Herdade do Vau
O artigo foi publicado originalmente em Eggas.
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