Proteger as plantas é uma necessidade que acompanha a agricultura desde que a humanidade aprendeu a cultivar. Certamente foi um longo processo de aprendizagem na procura e experimentação de produtos para ajudar a manter as plantas saudáveis e afastar as pragas, doenças e ervas daninhas.
Nos anos mais recentes, após a revolução industrial e o desenvolvimento tecnológico da primeira metade do século XX, surgiram os produtos agroquímicos de síntese, produzidos nas fábricas, que se juntaram aos produtos de origem natural que foram sendo descobertos ao longo dos séculos, como é o caso da “calda bordalesa”, baseada na cal e no sulfato de cobre. Hoje existem uma enorme variedade de produtos à nossa disposição, mas persistem alguns erros para os quais devemos alertar:
Falta de proteção individual
Os pesticidas podem provocar intoxicações “agudas”, repentinas, no caso da ingestão do pesticida, ou intoxicações “crónicas”, quando resultam da exposição prolongada, ao longo do tempo, sem utilizar os equipamentos de proteção durante a preparação ou a aplicação da calda. Os equipamentos mais básicos, obrigatórios, devem ser a máscara e luvas de borracha, mas também é importante usar roupa e óculos de proteção. À boa “maneira portuguesa”, muitas vezes facilitamos nestas coisas básicas e não nos protegemos.
Falta de cuidado na aplicação
Para além da falta de proteção connosco próprios, outras vezes não se protege quem vai consumir os alimentos. Às vezes as pessoas estão tão focadas em combater uma praga ou doença que aumentam a dose para além do recomendado no rótulo. Outras vezes nem leram o rótulo onde é indicada a dose a aplicar e o “intervalo de segurança”, que é o período de tempo que deve ser respeitado entre a aplicação do pesticida e a data da colheita, para que os resíduos desapareçam da planta. Outras vezes, ainda, aplicam-se os pesticidas com demasiado vento, que arrasta o produto para culturas vizinhas.
Pensar que o natural não faz mal
Percebendo que os produtos químicos de síntese podem ser perigosos, as pessoas procuram alternativas naturais, mas uma coisa “natural” também pode ser muito tóxica, muito venenosa, em certos casos mais tóxica do que a alternativa de síntese. Por exemplo, o veneno de cobra e os cogumelos venenosos são produtos naturais, mas extremamente venenosos, podendo causar a morte. Outro exemplo: circula pelas redes sociais uma receita de “herbicida natural”, para controlar as ervas daninhas “sem veneno”, que consiste em diluir água, vinagre e sal. Depois de escrever “natural” ou “sem veneno” com letras gordas no título, a publicação, nas letras pequenas que muitas pessoas já não leem, diz que não se deve usar a receita se tencionar voltar a cultivar nesse terreno. Lendo os comentários nas várias publicações, a maioria das pessoas que comentam dizem que é um erro colocar sal em grande quantidade porque vai esterilizar a terra, mas a “receita natural” vai circulando e certamente alguns vão experimentar e vai correr mal. Neste, como noutros casos, “a dose faz o veneno”. Um terceiro exemplo: a calda bordalesa, baseada em sulfato de cobre e cal, é um fungicida natural, já antigo, autorizado em agricultura biológica, mas tem “intervalo de segurança” e quem usava com frequência em ramadas sabia que a terra por baixo apresentava problemas por excesso de cobre. Mais uma vez, a dose faz o veneno.
Recapitulando:
- Os pesticidas são uma ferramenta essencial para proteger as culturas que não devemos dispensar nem usar de forma generalizada, sem regras.
- Devemos pedir conselho aos técnicos para usar um produto “legal” que seja mais eficaz e menos tóxico para o aplicador, para o ambiente e para o consumidor.
- Devemos ler o rótulo e usar o equipamento de proteção, a começar pela máscara e luvas.
- Devemos ter igualmente cuidado com as receitas “naturais” que apesar de naturais podem ser mais tóxicas do que os pesticidas que só podemos comprar e aplicar depois de fazer o “curso de aplicador de produtos fitofarmacêuticos”.
- Depois de aplicar os pesticidas, devemos fazer a “tripla lavagem” das embalagens e devolver as embalagens vazias dos pesticidas nos centros de recolha da valorfito – regra geral, no mesmo local onde se compram os pesticidas. Escrito para a revista Mundo Rural de Maio – Junho de 2025
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.