A seca, a guerra e os apoios do Governo são alguns dos temas que serão levados a uma manifestação em Braga, na quinta-feira, segundo Armando Carvalho, porta-voz da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte (APT).
De acordo com este porta-voz da direção da APT, que também é presidente da Baladi – Federação Nacional dos Baldios, há vários agricultores “que vivem uma vida complicada” atualmente.
“Primeiro é a seca, que continua a ter uma incidência sobretudo no setor pecuário, com dificuldades em ter alimentação para os animais”, dado que as rações “estão a subir exponencialmente ao ponto de neste momento não haver capacidade financeira para continuar a produzir animais”, disse à Lusa Armando Carvalho.
Posteriormente surgiu a questão da guerra na Ucrânia, que se reflete num “aumento brutal do gasóleo e da eletricidade”, algo que conjugado com a seca “está a levar a uma situação dramática”.
“Pensámos que era altura, de facto, de fazer uma iniciativa pública chamando a atenção dos governos e da União Europeia [UE]. As medidas que estão a ser tomadas neste momento são medidas mais paliativas”, considerou o representante das associações sediadas em Vila Real.
Na quinta-feira, está marcada uma manifestação em Braga convocada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), por ocasião da abertura da feira Agro.
No entender de Armando Carvalho, as medidas atuais “não vão ao encontro daquilo que são as expectativas de proteção dos agricultores”.
“Enfim, falar em linhas de crédito para quem já tem dívidas ou para quem não tem capacidade para depois poder pagar, mesmo que haja aqui um período de carência, por melhor que seja o período de carência, é preciso depois pagar os juros e o crédito, nas datas que forem indicadas pelo banco”, lamentou Armando Carvalho.
O porta-voz lembrou ainda problemas concretos da região Norte, como “mitigar os prejuízos com alguns agricultores provocados por animais selvagens”, como javalis, a indefinição da situação da Casa do Douro, a diminuição dos produtores de leite ou a perda da autossuficiência na cultura da batata.
Além destes problemas, Armando Carvalho lembrou ainda que falta “a concretização plena do Estatuto da Agricultura Familiar”.
“Nós vamos ter um problema gravíssimo, que é o abastecimento do país através de produtos agrícolas, e era altura, de facto, para pensar em dinamizar todo este setor que é da agricultura familiar, que apesar de tudo tem um número de produção apreciável e que nos últimos anos tem vindo a perder terreno”, considerou.
Na quinta-feira, os agricultores vão ainda “reivindicar que é preciso combater a especulação dos preços dos fatores de produção, desde os combustíveis à eletricidade, às rações, sementes, adubos, fitofármacos”, elencou.
O setor procura também que exista o escoamento do produto “a preços justos”, uma vez que a agricultura familiar está a “nivelar pelos preços mundiais”, algo com o que “não pode competir”, apontando ainda à Política Agrícola Comum.
Os agricultores queixam-se ainda que as cadeias de grande distribuição “nunca têm espaço nas prateleiras para a pequena e média agricultura, para a agricultura familiar”, e, quanto à seca, já há produtores “que têm receio de não poder fazer as sementeiras de primavera/verão”.
Relativamente à guerra e ao forte impacto que quer a Rússia quer a Ucrânia têm no mercado cerealífero, especialmente para animais, Armando Carvalho disse à Lusa que ainda não se estão a registar problemas em Portugal porque há ‘stock’ [existências], mas outros mercados, como os Estados Unidos ou o Brasil, “vão ficar inevitavelmente mais caros”.