Política de desregulação do sector é um fato à medida da grande distribuição mas que não serve os interesses da produção e dos consumidores
Os produtores de leite Europeus (Coordenadora Europeia Via Campesina – CEVC e European Milk Board – EMB), manifestaram-se juntos, mais uma vez, em Bruxelas, hoje, numa acção simbólica relaizada junto à reunião do Conselho de Ministros da Agricultura.
Esta acção pretendeu alertar para a grave crise em que o sector continua mergulhado, para contestar a colocação no mercado do leite em pó resultante da intervenção pública e para exigir um instrumento público que ponha fim à mais longa crise que já se viveu no sector.
Apesar da ligeira recuperação dos preços no produtor dos últimos meses, estes continuam muito abaixo dos custos de produção e os stocks na indústria continuam elevadíssimos.
“Hoje a maioria dos produtores de leite continuam a perder dinheiro por kg de leite vendido e mesmo que venham a ser atingidos preços remuneradores na produção, muito tempo terá de passar para que o sector recupere do endividamento e descapitalização provocados pela crise”, afirmou Philippe Deknudt produtor da organização FUGEA (Bélgica) membro da CEVC.
Ao mesmo tempo, Philippe Collin da Confédération Paysanne (França) referia que “Não é compreensível que se coloque num mercado em crise o leite em pó resultante da aplicação de um instrumento de crise que tem por função retirar o excesso de leite do mercado.”
“A intervenção pública serve para retirar o leite do mercado quando há uma situação de desequilíbrio entre a oferta e a procura. Ora esse leite retirado não pode ser devolvido ao mercado até que a situação de equilíbrio seja novamente reposta, o que não é o caso, como se comprova pelo falhanço na colocação no mercado, por parte da Comissão, de 20 mil Ton onde nem 1% acabou por ser adquirido.”
José Gonçalves, da Direcção da CNA e do Comité Coordenador da CEVC, recorda que actualmente a Comissão possui um total de 360 mil ton de leite em pó em stock, mas esses valores poderiam ser muito mais elevados se o preço de 21 cêntimos que desencadeia a intervenção fosse actualizado com os reais custos de produção como exige o sector.
O único aspecto positivo da tentativa de colocação no mercado do leite em pó por parte da Comissão Europeia, foi essa essa mesma Comissão, sentir na pele as dificuldades e o desespero que o sector vive para se libertar do excesso de produção gerado pelo fim da quotas leiteiras e que esmaga completamente os preços à produção, comentavam Stéphanie Delhaye e Henri Lecloux, produtores do MAP (Bélgica) membro da CEVC.
A CEVC mais uma vez reafirmou nesta acção que apenas a reposição de um instrumento de regulação público da produção, ira travar a destruição do sector do leite na Europa e salvaguardar a qualidade e sustentabilidade do modelo de produção.
Desde o anúncio do fim das quotas leiteiras o sector tem assistido a repetidas crises com uma duração cada vez mais longa.
Esta política de desregulação do sector é um fato à medida da grande distribuição mas que não serve os interesses, nem da produção, nem dos consumidores.
Imagens que foram palco do protesto dos produtores de leite Europeus.
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