Arrancou em Julho o projecto português SambucuSafe, que visa «dar resposta à problemática da contaminação por fungicidas na baga de sabugueiro», com particular incidência na região do Vale do Varosa. Esta iniciativa é promovida por um consórcio constituído por Regiefrutas (entidade líder do projecto), Indumape, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e More Colab – Laboratório Colaborativo Montanhas de Investigação.
O SambucuSafe é financiado no âmbito do PT 2030 e tem como objectivo «desenvolver uma tecnologia inovadora e clean label para a redução de captana e dos seus metabolitos em mostos e concentrados de baga de sabugueiro [Sambucus nigra], reforçando as características de qualidade destes produtos, contribuindo deste modo para uma motivação adicional para as novas plantações de sabugueiros no nosso país», referem os promotores. O consórcio salienta que os resíduos dos produtos químicos de que o sector agrícola depende frequentemente para garantir o rendimento das culturas «podem permanecer no solo, penetrar nas águas subterrâneas e dispersar para outras culturas pela acção do vento, colocando em risco o ambiente e a segurança alimentar», sendo que, no caso do sabugueiro, «normalmente localizado na bordadura de outras culturas, há uma elevada probabilidade de as bagas serem contaminadas com produtos como a captana, um fungicida de largo espectro utilizado mundialmente na agricultura para o controlo de doenças e aplicado noutras árvores de fruto».
«No caso concreto da baga de sabugueiro, a aplicação de captana em pomares de macieiras, numa altura próxima da apanha da baga, poderá não permitir um intervalo de segurança suficiente e, consequentemente, poderão detectar-se pontualmente em alguns lotes valores de captana acima dos limites máximos permitidos nos mostos e concentrados de baga de sabugueiro. Por outro lado, o processamento de diferentes frutos em simultâneo na mesma unidade fabril, com limites máximos de resíduos de pesticidas distintos, poderá incrementar a presença de captana por contaminação cruzada», afirmam os promotores. Segundo Alexandre Gonçalves, coordenador técnico-científico no More Colab, esta situação «poderá pôr em causa, no futuro, a valorização da comercialização de alguns lotes de mostos e concentrados da baga de sabugueiro, sendo que o sabugueiro representa uma mais-valia económica importante para os agricultores da região do Varosa».
Neste contexto, Alexandre Gonçalves explica que o desafio lançado pela Regiefrutas e pela Indumape foi estabelecer «uma equipa multidisciplinar capaz de encontrar uma solução inovadora e sustentável que permitisse manter os elevados níveis de qualidade deste fruto», sendo que depois «o Compete 2030 identificou este projecto como relevante e decidiu cofinanciar a sua execução». Fernando Nunes, professor do departamento de química da UTAD, sublinha que «as práticas tradicionais usadas para eliminação de fungicidas, pesticidas e outros compostos químicos, como a lavagem, não se adequam ao sector, uma vez que se trata de um fruto com pele fina e que se deteriora com facilidade», acrescentando que, «para inverter essa situação, surge a necessidade de desenvolver um processo industrialmente viável que permita reduzir a concentração de captana e/ou metabolitos no mosto e concentrado de baga de sabugueiro».
Por sua vez, César Pereira, responsável de qualidade e produção da Regiefrutas, relata que a empresa, «enquanto motor de desenvolvimento sustentável da baga de sabugueiro regional, considera o projecto uma mais-valia para os produtores, permitindo a redução de perdas comerciais e contribuindo para a obtenção de um produto seguro». O consórcio indica que a baga do sabugueiro é «rica em diversos compostos bioactivos, aos quais são atribuídos efeitos benéficos para a saúde e bem-estar», que esta «é utilizada para fins diversos, sendo exportada para Alemanha e Países Baixos, sobretudo como corante natural alimentar», e que «a região do Varosa, que se prepara para mais uma colheita, conta agora com um importante aliado no processo de transformação de uma cultura com crescente contributo para a economia local».
O artigo foi publicado originalmente em Revista Frutas Legumes e Flores.