Espera-se um aumento na ocorrência de doenças respiratórias na população e o respetivo impacto na sociedade, no mercado de trabalho e nos serviços de saúde. A nível global, os custos económicos da poluição do ar representam 3,3% do PIB.
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Portugal: efeitos do calor, incêndios e seca
Apesar de a qualidade do ar em Portugal ter vindo a melhorar ao longo dos anos, fenómenos extremos associados às alterações climáticas, como o calor, os incêndios e a seca estão a afetar cada vez mais o país. Na realidade, na região do Mediterrâneo, onde Portugal está inserido, a temperatura média já atingiu os 1,5º de tecto previsto no Acordo de Paris para evitar problemas ambientais catastróficos. Não esquecendo a exposição a pontuais vagas de poeiras provenientes de África, sendo que a última incidência no país foi a maior dos últimos 16 anos. Todos estes fenómenos extremos conjugados potenciam o desenvolvimento ou agravamento de doenças respiratórias, destaca o pneumologista: “Nós sabemos que nas alturas em que há incêndios florestais significativos há imediatamente a seguir um aumento da má qualidade do ar, com muita matéria particulada na atmosfera e resíduos da combustão destes incêndios florestais. Vimos isso no fatídico ano de 2017.”
E isto tem ligação direta com a saúde dos portugueses. Um artigo conjunto de cientistas da Universidade de Lisboa, intitulado “Poluição do Ar e Admissões na Emergência Hospitalar -Evidências na Área Metropolitana de Lisboa”, publicado em 2020, concluiu que foi encontrado “um número considerável de associações entre poluição do ar e admissões de emergências hospitalares em todas as doenças analisadas, sejam elas circulatórias ou respiratórias”. “Também descobrimos que os municípios com maiores níveis de vulnerabilidade à poluição do ar (tráfego, densidade populacional, características socioeconómicas, mudanças climáticas) apresentam mais relações entre ar poluído e admissões em emergência hospitalar.” Neste sentido, um projeto internacional (Fireurisk), delineado a partir da Universidade de Coimbra, está a avaliar o impacto dos eventos extremos dos incêndios florestais na Europa e formas integradas de combater os seus efeitos.
Por outro lado, os fenómenos climáticos adversos afetam com mais incidência as populações mais vulneráveis, nomeadamente os idosos. Um estudo recente realizado por Mónica Rodrigues, investigadora no Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Coimbra, projeta o impacto das alterações climáticas na mortalidade em Portugal a curto e a longo prazo. Em particular, o estudo identificou os grupos de idade (inferior a 65 anos e +65 anos) em risco no âmbito do impacto das alterações climáticas sobre as doenças do aparelho circulatório nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Os resultados, explica Mónica Rodrigues, evidenciam que para os períodos futuros se prevê “um aumento da temperatura, quer no verão, […]