Os pastores do Planalto Mirandês queixam-se que os ataques de lobos ocorridos desde o início do ano são “uma calamidade“ e pedem a atuação do Governo para ajudar a solucionar este problema que causa “avultados prejuízos”.
Pastores dos concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro afirmaram à agência Lusa que alguma coisa tem que ser feita, porque há “avultados prejuízos” nas explorações pecuárias, e desta forma não podem continuar a criar animais que contribuem para economia desta região, e pedem ajuda aos ministérios da Agricultura e Ambiente.
António Padrão disse que os pastores andam com “o credo na boca” porque os ataques de lobos os estão a deixar “assustados e desmotivados”, sendo necessário a intervenção do Governo, para ajudar a ajudar a resolver “esta calamidade”.
“Apelamos ao Ministério do Ambiente e ao Ministério da Agricultura que tomem mão desta calamidade, porque se está tornar insuportável. Se eles [Governo] querem proteger o lobo, têm de criar condições para o efeito, já que não há nada que os segure, nem os cães nem vedações dos terrenos onde andam os animais”.
“Isto está a ficar insustentável. Se o lobo ataca animais de maior porte, pergunto como é que as ovelhas se vão defender das investidas. As medidas de proteção aos lobos estão a sufocar a pecuária do Planalto Mirandês, porque esta atividade está a ser destruída”, vincou.
O pastor afirmou que tem 140 ovelhas e que a qualquer momento pode acontecer um ataque de lobos.
“Temo tanto um ataque dos lobos que não largo os meus animais. Tenho dormido no estábulo e não deixo as ovelhas fora e tenho a minha propriedade bem vedada, mas, mesmo assim, não estou seguro”, frisou.
Este pastor relatou à Lusa uma tentativa de ataque de lobo ao seu rebanho em setembro “em plena luz do dia”.
“Tinha os cães comigo e com ajuda do cajado consegui afugentar o lobo”, relatou.
Já Viriato Domingues contou que os lobos atacaram a sua exploração em meados de junho, em Uva, no concelho de Vimioso, onde mataram 20 ovelhas e quatro cordeiros e oito ficaram gravemente feridas.
Até ao momento, ainda não foi notificado por nenhuma entidade para fazer cobro aos prejuízos, apesar de reportar o caso ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). “Os ataques lobos acontecem praticamente todos os dias e ainda não há muito tempo que vi dois, a sorte é que os consegui desviar porque estava perto do gado”, relatou.
Segundo este pastor, se nada mudar terá de partir para uma “tomada de posição para que quem de direito olhem para esta calamidade ”.
Quem também não esconde a indignação é o produtor pecuário Isidro Carvalhino que afirmou que “terá haver alguma entidade pública que olhe com olhos de ver para o que está a acontecer aqui nestas terras, para resolver este grave problema”.
“Nós estamos aqui no Planalto Mirandês, onde a maioria das pessoas vive da agricultura. Nós gostamos de tratar os nossos animais e se eles querem tratar dos lobos, que estejam à vontade. Mas o dinheiro que as entidades ou organizações que protegem os lobos recebem, também tem de servir para lhes comprar alimento, para não haver tantos ataques. Os pastores estão a ser muito prejudicados com esta situação”, defendeu.
Este pastor é igualmente da opinião que a falta de alimentos está relacionada com os incêndios verificados na zona de fronteira entre Portugal e Espanha, nos últimos anos.
“Os lobos refugiam-se no mato, onde há monte. Como esta zona ainda vai sendo trabalhada e o monte deixa de existir por vários fatores, estes predadores não têm onde se esconder e vão-se aproximando sem medo”, observou.
Isidro Carvalhino acrescentou ainda que, quando não há alimento nas matas, os lobos viram-se para as aldeias, onde estão os estábulos e os terrenos onde pastam as ovelhas.
“Eu tive um ataque de lobos a cem metros da minha casa entre as seis da manhã e o meio da tarde, onde nós estávamos a trabalhar junto a este local. Vamos ter de tomar medidas para chamar a atenção para estes ataques constantes”, disse.
Em 19 de setembro o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) divulgou que na região do Planalto Mirandês, desde o início de 2024 até meados de setembro, foram registados 32 ataques de lobos neste território fronteiriço do distrito de Bragança. Os ataques continuaram e, para já, ainda são desconhecidos novos números.
“Há ataques quase todos os dias nos concelhos do Planalto Mirandês”, afirmam os pastores.
O criador José Martins alertou para o preço de mercado das ovelhas e os cordeiros e que, quando os lobos atacam, deixam prejuízos avultados.
“O preço de uma ovelha pode chegar aos 250 euros e um cordeiro aos 100 euros. Mesmo uma ovelha de refugo pode custar entre 60 a 70 euros. Com um ataque de lobos, os prejuízos podem ser muito elevados”, indicou.
Em julho, foi apresentado o Programa Alcateia 2025-2035, de proteção do lobo-ibérico, que tem para este ano um orçamento de 3,3 milhões de euros e contempla a revisão das indemnizações por ataques de lobos a gado, aproximando-as dos valores de mercado.
Segundo o ICNF, o lobo-ibérico possui em Portugal o estatuto de em “perigo”, que lhe confere o Estatuto de Espécie Protegida.
Existem diversas medidas de proteção da espécie, entre as quais se destacam as indemnizações por danos causados pelo lobo-ibérico, e ainda vários projetos que apoiam os criadores de gado e incentivam medidas de proteção, como o uso de cães de gado de raças autóctones.
A Lusa contactou o ICNF que remeteu explicações para mais tarde.















































