O pároco de Odemira, Manuel Pato, lembrou hoje que sempre denunciou as condições precárias em que vivem os trabalhadores migrantes em explorações agrícolas e defendeu a necessidade de o Governo dar uma resposta urgente na sua integração.
“Temos vindo a acompanhá-los, sobretudo desde há 11 anos em que eu estou aqui em Odemira, quer alertando as entidades de algumas situações de precariedade, quer colaborando com as instituições”, contou à agência Lusa Manuel Pato.
No entanto, para o pároco de Odemira, no distrito de Beja, “no momento presente” o grande desafio da paróquia é intermediar a relação entre a comunidade local e os imigrantes, de forma a “prevenir fundamentalismos”, nomeadamente sentimentos de “xenofobia”
“Que haja um sentido de compreensão de que quem para cá vem, vem à procura de melhores condições de vida e que, independentemente de serem católicos ou não, o sentimento humano tem de estar acima disso”, argumentou.
Manuel Pato referiu que a paróquia de Odemira tem ao longo dos anos ajudado muitos imigrantes, dando-lhes apoio a nível alimentar, linguístico e burocrático.
“Muitas vezes acompanhei vários até ao SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] a Beja, sendo que muitos deles não falavam português, nem inglês. Servindo aqui da ajuda de alguns interpretes, que nós temos aqui na paróquia como colaboradores, ajudar ao máximo à sua integração”, contou.
Outro trabalho da paróquia de Odemira, referiu Manuel Pato, tem sido a sensibilização junto das empresas onde os imigrantes trabalham, procurando que estas “respeitem a sua identidade religiosa e cultural”.
“Temos tido um papel, sobretudo de sensibilização, ao longo destes anos de respeito da parte das quintas e empresas pelas festas próprias de cada nacionalidade, sobretudo pelo Natal e Páscoa, que coincidem em épocas diferentes das nossas, e com grande sucesso”, destacou.
Relativamente ao futuro, o pároco disse ter “muitas dúvidas de que existirão muitas mudanças nas condições de vida dos imigrantes”, mas manifestou o desejo de que o Governo dê “respostas urgentes para melhorar a sua integração”.
“O que gostaríamos realmente era de uma resposta não apenas tipo ‘um penso’, mas muito mais profunda, que fizesse aqui uma mutação da sociedade, sobretudo de integração”, argumentou.
As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, estão com cerca sanitária, desde 30 de abril, por causa da elevada incidência de covid-19, sobretudo devido aos casos entre trabalhadores do setor agrícola, muitos deles imigrantes.
Quando o Conselho de Ministros decretou a cerca sanitária, o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou que “alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com hipersobrelotação das habitações”, e relatou situações de “risco enorme para a saúde pública, além de uma violação gritante dos direitos humanos”.
Na quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu manter a cerca sanitária, mas com “condições específicas de acesso ao trabalho”.
A entrada ou saída das freguesias para o “exercício de atividades profissionais” e para o “apoio a idosos, incapacitados ou dependentes e por razões de saúde ou por razões humanitárias” depende da apresentação de comprovativo de teste PCR negativo realizado nas 72 horas anteriores ou teste rápido antigénio negativo realizado nas 24 horas anteriores.
Já hoje, o presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro, revelou que vai exigir ao Governo o fim “imediato” da cerca sanitária.