Muito se tem falado nos últimos tempos sobre olivais intensivos e superintensivos. Foram tema de campanha eleitoral nas legislativas e a discussão continua. Tudo fruto de algum eleitoralismo e de muita desinformação. Não há dúvida de que a intensificação cultural desregrada pode ter efeitos nefastos sobre a conservação dos recursos naturais e a perda de biodiversidade a médio prazo. Mas não é credível, pelo menos para todos aqueles que não são fundamentalistas ou preconceituosos, de que todos os olivicultores com olivais superintensivos façam um itinerário técnico que contamina os solos, polui os lençóis freáticos e mata toda a biodiversidade existente nas parcelas de olival que cultivam. Estariam a matar a galinha dos ovos de ouro, para eles e para os seus herdeiros. Por outro lado, é verdade que alguns, poucos, não se preocupam com estas questões, numa atitude puramente irresponsável, onde apenas conta o lucro imediato e a recuperação acelerada do alto investimento que fizeram. São esses que, infelizmente, mancham a imagem da grande maioria, que faz bem. Parece-me que estão criados uns mitos, talvez (por) urbanos, de que o olival superintensivo é uma coisa contranatura, até, talvez, obra do diabo! Vou tentar desfazer alguns desses mitos. Quem não se lembra das vinhas antigas, conduzidas em taça, com videiras baixinhas com 3 ou 4 braços cada uma, desordenadas e com uma densidade de plantação pouco acima das mil plantas por hectare. Ainda há vinhas destas em Orada, na Serra de São Mamede, e também entre o Redondo e Reguengos de Monsaraz. Há trinta anos atrás começou a viticultura moderna, com videiras alinhadas em sebe, conduzidas num plano vertical que permite a passagem da vindimadora. Estas vinhas em sebe, têm 3.300 a 3.500 videiras por hectare, em compassos mais apertados. Foi o processo de intensificação da cultura vinha, inevitável, necessário e não contestado pela sociedade. E numa ouvi falar em “vinhas superintensivas”, com todos os males que daí advém e os prejuízos para o ambiente e as comunidades locais. Nenhum movimento ambientalista ou partido político se ergueu contra estas vinhas, nem diabolizou o seu cultivo. Ora então, porquê esta atitude contra o olival em sebe, dito “superintensivo”? O olival superintensivo é o resultado da evolução da cultura do olival, num caminho do aumento da mecanização, por falta de mão-de-obra e para reduzir custos, como aconteceu antes com a vinha do Alentejo. Há muita jogada política por detrás da questão do olival superintensivo e muita desinformação. Vamos ser razoáveis. Vamos sim, informar e controlar que as plantações sejam bem-feitas, respeitem as linhas de água naturais, não sobre-explorem os lençóis freáticos, façam tratamentos com agroquímicos numa perspetiva de produção integrada amiga do ambiente, sem necessidade de obrigar a Estudos de impacto ambiental, que não tem qualquer justificação lógica a não ser querer entravar burocraticamente o processo. Aí sim, estaremos a cumprir o nosso dever de sociedade civil atenta, mas deixaremos trabalhar os olivicultores, que a muito custo ganham a sua vida, cuidam da nossa paisagem, criam empregos nos territórios de baixa densidade e contribuem para a economia local e nacional.
O artigo foi publicado originalmente em Linhas de Elvas.