A fraca cultura científica de quem “gere os incêndios” deixou arder o vale glaciar do Zêzere e extensas áreas do Parque Natural da Serra da Estrela
Existem palavras que, tal como desfiles de roupa, revelam tendências e ditam a moda linguística. Substantivos, verbos e advérbios, neologismos e anglicismos, entram e saem do léxico ao sabor das modas e das estações do ano.
Há tendência para nos focarmos na forma das palavras, sem questionar o seu conteúdo ou significado, como se fossem só um embrulho ou adereço desprovido de substância. Gostamos das palavras brilhantes e organizadas em frases bem polidas, imaculadas e pujantes, esquecendo que o uso das palavras pode, ou não, ter consequências.
Podem inebriar, quando se alinham em poemas e prosas sublimes, podem ensinar e revelar os segredos das coisas, quando transmitem o pensamento científico e a filosofia das inquietações, ou podem manipular quando nada mais existe para além da forma.
Nesta última categoria, encontram-se alguns dos termos do jargão do Fogo, onde não se questiona o conteúdo e o significado das palavras que se usam para falar dele, nomeadamente, combustível e floresta.
No jargão do fogo, a vegetação arbustiva e sub-arbustiva é classificada como “combustível”, como se se tratasse de um amontoado de coisas secas sem vida, sem diversidade, sem relevância nem função e a sua simples existência potenciasse, por si só, o fogo.
Classifica-se como “floresta” todo o território do interior continental português, amálgama de áreas de monoculturas predadoras, de matas, matos, manchas imensas de espécies invasoras, incultos, áreas degradadas, pedreiras, lixeiras, infraestruturas, armazéns e casas dispersas que, para ser floresta, tem de ser imaginada.
Qual Laurissilva ou pequena Amazónia, muito verdes, com árvores magníficas e em diferentes estágios de evolução – umas muito antigas e outras a emergir do solo – extensões a perder de vista, estratos de vegetação intocados, dos líquenes e fungos aos grandes […]