O tempo seco antecipou a ceifa das poucas searas de trigo que não deram grão e as flores silvestres desapareceram dos campos.
Tornou-se um lugar comum afirmar que a tradição já não é o que era. Mas nos dias de hoje, e numa região que está a ser fustigada por mais um ciclo de seca severa e extrema, deixou de haver condições para o Dia da Espiga continuar repleto de flores silvestres. Os campos antes moldados por extensas searas foram sacrificados ao novo modelo cultural que procura, acima de tudo, a rentabilidade económica.
E nas poucas sementeiras de trigo, cevada ou aveia que o passado Outono ajudou a cultivar acreditando-se num ano agrícola promissor, resta o restolho depois de uma ceifa antecipada para garantir algum alimento aos animais.
Mirna Becovicht, cidadã brasileira, arriscou atravessar o IP2 na periferia de Beja para fazer o arranjo do seu “raminho” de espiga numa pequena courela de trigo. Com uma “tesourinha” – os diminutivos e as palavras no gerúndio típicas no Alentejo já entraram no seu léxico – ia cortando as poucas papoilas que ainda se encontravam “mais ou menos” viçosas enquanto descrevia ao PÚBLICO, perante o olhar humorado do marido, como lhe estava a agradar o contacto com a natureza.
“Sou do Paraná, no sul do Brasil, celeiro de trigo, agora mais de soja e milho que […]