A Comunidade Intermunicipal do Algarve pediu hoje a demissão do presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), na sequência de críticas aos municípios por gastarem mais em bombeiros do que em gestão florestal.
“Os 16 autarcas algarvios não têm confiança e nem reconhecem competência a Tiago Oliveira para ocupar tão importante e fundamental cargo, e pedem, por isso, que o presidente da AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais – se demita, reconhecendo que não tem condições para se manter em funções”, apelaram as Câmaras do distrito de Faro.
A Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) manifestou hoje esta posição conjunta em comunicado e, em declarações à agência Lusa, o presidente do organismo, António Miguel Pina, disse que o homólogo da AGIF, Tiago Oliveira, não tem condições para permanecer no cargo e mostra desconhecimento pela realidade dos territórios do interior afetados por incêndios florestais.
Em causa estão as declarações de Tiago Oliveira na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas, na quinta-feira, quando disse que “há municípios a gastar meio milhão de euros, uma barbaridade de dinheiro, nos bombeiros, quando não gastam dinheiro a gerir a floresta”.
“O senhor presidente da AGIF, Tiago Oliveira, desde a primeira hora tem tido uma posição, no nosso entender, pouco conhecedora do que se passa no mundo rural e contrária àquilo que é a perspetiva de desenvolvimento do interior por parte de muitos dos municípios que têm esta problemática dos fogos florestais”, afirmou António Pina à Lusa.
Segundo o presidente da AMAL, “Tiago Oliveira acha que a solução para os fogos florestais é desertificar por completo e proibir qualquer atividade económica e humana nos territórios”.
O representante expressou a sua discordância com esta posição: “Os municípios do interior têm uma visão completamente diferente. Há que gerir a floresta, há que gerir o território, mas a presença do homem, mantendo aquilo que são os pequenos locais, vilas e aldeias é determinante para uma boa gestão da floresta”, justificou.
António Miguel Pina classificou as declarações de Tiago Oliveira como “pérolas” que “revelam total desconhecimento” e que, “além de injustas, fazem quase até troça da posição dos autarcas”.
“Teve sempre ao longo destes quatro anos este posicionamento, no seu pedestal, de uma intelectualidade que se autointitula superior, olhando os autarcas como gente pouco conhecedora e pouco capaz, sem saber o que faz e que desperdiça dinheiro com os bombeiros”, lamentou.
O também presidente da Câmara de Olhão deu o exemplo do seu município. Tiago Oliveira, disse o autarca, “fala em 500.000 euros”, mas “os bombeiros municipais de Olhão custam três a quatro vezes mais que isso”, o que demonstra que o presidente da AGIF não tem “a mínima noção do grande serviço que as corporações de bombeiros, sejam elas municipais ou voluntárias, fazem nos territórios e que vai muito além de apagar fogos”.
“Aquilo que nós, os autarcas do Algarve, queremos dizer ao senhor Tiago Oliveira é que reflita, [porque] não tem condições para desempenhar funções ao nível desta tão importante missão. Nós, autarcas do Algarve, não o reconhecemos como capaz para o efeito”, afirmou.
Segundo o presidente da AMAL, o posicionamento de Tiago Oliveira “promove a desresponsabilização do poder central e procura pôr sobre os ombros dos municípios e dos autarcas aquilo que o poder central não faz”, porque a “gestão da floresta tem de ser feita e assumida pelo Governo”.