Apesar de a produção das principais culturas vegetais ter gerado 6,4 mil milhões de euros em 2023, mais de 90% desse valor não está protegido por seguros agrícolas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), divulgados pelo ECO.
O baixo nível de cobertura deixa o setor vulnerável a fenómenos como geadas, tempestades ou secas, o que obriga o Governo a intervir com fundos não orçamentados.
Em 2024, os sinistros agrícolas indemnizados ultrapassaram os 22 milhões de euros, um aumento de quase 60% face ao ano anterior, enquanto o valor das apólices cresceu apenas 6%, revelaram dados da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), citados pelo ECO.
O setor dos seguros agrícolas é ainda pequeno e concentrado, lê-se na publicação. A Fidelidade domina agora o mercado, com mais de 60% da quota, após a Generali suspender a emissão de novas apólices. Também operam neste segmento a CA Seguros, a Caravela e a Una Seguros, entre outras. As principais coberturas incluem tempestades, granizo, incêndios, furto e vandalismo, sendo que o IFAP comparticipa até 70% do custo do seguro, com apoio da União Europeia (UE).
Contudo, a burocracia, os custos e a “cultura de dependência de apoios públicos” continuam a afastar muitos agricultores da contratação de seguros. Luís Teixeira, da corretora F. Rego, citado no ECO, defende que, sem uma mudança clara na política pública — que substitua os apoios de emergência por incentivos reais à contratação de seguros —, o mercado dificilmente se desenvolverá.
Mesmo na que toca à Europa, o cenário não é muito diferente: apenas 20% a 30% das perdas causadas por eventos climáticos estão cobertas. Em Portugal, o principal risco — a seca — representa mais de 60% das perdas não seguradas.
Especialistas alertam que o setor enfrenta um novo ciclo, marcado por mais risco, maior intensidade de fenómenos extremos e custos crescentes. No entanto, a proteção continua frágil, o que ameaça a sustentabilidade a longo prazo da agricultura nacional.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.