Em entrevista ao Dinheiro Vivo, João Portugal Ramos admite uma “considerável quebra de consumo de vinho, principalmente no mercado nacional”, parte da qual tem conseguido ser compensada pelo consumidores em casa. Mas sabe que os tempos são difíceis e vão piorar antes de melhorar. Por isso pede medidas mais simples e rápidas. Vê com bons olhos as moratórias, mas considera as linhas de crédito “paliativos que podem gerar uma dívida excessiva no pós-crise”.
Esta pandemia está a ter efeitos avassaladores na economia, em particular na agricultura. Os apoios criados para combater os efeitos da covid-19 chegam às produções?
As últimas semanas têm sido de adaptação de todos os setores a esta crise, incluindo o da agricultura. Sentimos boa vontade do governo em ajudar as empresas, mas as constantes comunicações, por vezes contraditórias, e os critérios de acesso são ainda confusos. O processo tem de ser mais simplificado e ir para além do acesso a linhas de crédito para adiar o pagamento da conta. Um exemplo positivo em termos processuais e o único que para já vimos concretizado é o das moratórias bancárias, mas também neste caso não se trata de fundos adicionais.
Que medidas gostava de ver serem tomadas para melhorar as condições de existência de uma área que, afinal, é considerada de primeira necessidade?
A exemplo do que já foi aprovado em Itália, o vinho, como parte da dieta mediterrânica, deverá ser tratado como qualquer outro alimento para que não sejam interrompidas as cadeias de distribuição deste produto. Gostávamos ainda de ver, regras menos rígidas para desde que temporários.
Que efeitos já teve e que mais espera desta crise no setor vitivinícola?
O primeiro grande efeito foi a paragem do no mercado nacional, com o encerramento dos restaurantes e restante hotelaria. Pouco tempo depois, também o canal se ressentiu um pouco, devido à falta de capacidade da cadeia de abastecimento das grandes superfícies, focadas naturalmente nos bens mais essenciais, nesta fase inicial. O enoturismo fechou e por isso também essa fonte de receita acabou, ainda que com peso reduzido para muitos produtores.
Numa perspetiva de curto médio prazo, a cinco meses da vindima, o objetivo é o de assegurar um de vinho em casa. Equilibrado, para garantirmos que as adegas têm capacidade de armazenamento suficiente para receber toda a colheita de 2020. Algo com que algumas adegas do país terão dificuldades
Estão a notar quebras de consumo na Portugal Ramos? E na produção há atrasos?
Notamos uma considerável quebra de consumo, principalmente no mercado nacional, pelas razões descritas acima. A exportação depende largamente dos mercados. Como produzimos para mais de 40 países, temos alguns que mantiveram e outros que até reforçaram as suas compras de vinho com grande parte dos consumidores em casa, pelo que temos conseguido equilibrar mais ou menos esta complicada equação. Continuamos a satisfazer encomendas a tempo e horas e para já a um bom ritmo. Veremos o que nos espera nos próximos meses…
As linhas de crédito e moratórias são boas soluções ou vão piorar a situação visto que aumentam a alavancagem?
As moratórias sim, aliviam e não aumentam significativamente o peso da dívida. As linhas de crédito são paliativos e podem gerar uma dívida excessiva no pós-crise – deveriam ter períodos de carência mais alargados e juros mais reduzidos (quase simbólicos).
Os bancos podiam ou deviam ir mais longe nas soluções para apoiar as empresas e a economia?
Os nossos principais parceiros bancários têm sido muito corretos no apoio que nos deram. O que vai agora importar é a celeridade com que os apoios serão disponibilizados às empresas.
A resposta europeia tem ficado muito aquém do esperado. O que gostaria de ver acontecer a este nível comunitário?
Maior solidariedade e celeridade na definição de medidas que permitam manter o emprego e também o índice de confiança dos consumidores.