O La’o Hamutuk – Instituto de Timor-Leste de Monitorização e Análise do Desenvolvimento pediu hoje ao Governo timorense para diversificar a produção agrícola para que a população tenha acesso a alimentos nutritivos e em quantidade suficiente.
“Nos últimos 20 anos, o governo de Timor-Leste e os seus parceiros de desenvolvimento investiram somas significativas na agricultura, pesca, pecuária e floresta. No entanto, ainda não conseguiram assegurar plenamente o direito à alimentação para toda a população”, afirmou Mariano Ferreira, da equipa da agricultura, terra e economia do La’o Hamutuk.
Mariano Ferreira falava aos jornalistas em conferência de imprensa, em Díli, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, que se celebra na quarta-feira, e no contexto da proposta do Orçamento Geral do Estado para 2025, cujo debate está agendado para novembro.
“Reconhecemos que foram implementados programas relevantes, como a construção de sistemas de irrigação, distribuição de tratores, sementes e fertilizantes, e a colocação de técnicos agrícolas em áreas rurais, mas a maior parte desses esforços tem-se concentrado na produção de arroz e milho, deixando de lado outros produtos locais”, salientou Mariano Ferreira.
Como resultado, explicou o analista, Timor-Leste não só continua a importar arroz, como também passou a importar outros produtos agrícolas que antes eram cultivados no país em grande quantidade, nomeadamente batata-doce, cebola e tomate.
O La’o Hamutuk alertou também para o facto de muitos agricultores locais estarem a envelhecer, o que está a afetar a produção, para os crescentes efeitos das alterações climáticas e para as dificuldades que os timorenses enfrentam para terem acesso a alimentos suficientes e nutritivos.
“A produção interna de alimentos no nosso país não está maximizada e há uma forte dependência das importações, muitas das quais não têm o valor nutricional necessário”, afirmou Mariano Ferreira.
Segundo dados do Programa Alimentar Mundial, 47% das crianças com menos de cinco anos de idade têm atraso no crescimento e 8,6% sofrem de desnutrição aguda, enquanto 23% das mulheres em idade reprodutivas são anémicas, bem como 63% das crianças com menos de cinco anos.
Na conferência de imprensa, Mariano Ferreira propôs ao Governo para priorizar a capacitação e formação, resolver a escassez de água para a agricultura, apoiar pequenos grupos e negócios locais, melhorar os acessos aos mercados, apoiar os pescadores, bem como controlar a importação de produtos, que podem ser cultivados localmente.
O instituto pediu também que a promoção da agricultura, da criação de animais, da pesca e da agroecologia sejam priorizados no orçamento e que os timorenses sejam sensibilizados para que consumam alimentos mais nutritivos.