Com a área de pastagem atingida pelo incêndio em Pardelhas, Mondim de Basto, Ângelo Rodrigues procura hoje outros montes para alimentar as suas 170 cabras que na segunda-feira ficaram todo o dia no curral.
“Tenho de procurar outros montes onde ir pastorear com as cabras. A gente tem que se desviar para mais longe”, contou o pastor de 63 anos à agência Lusa.
O fogo desceu a serra e parou próximo da aldeia do concelho de Mondim de Basto, para onde se propagou o incêndio que começou pelas 23:45 de sábado, em Sirarelhos, Vila Real.
“As minhas cabras são diárias na serra até ao por do sol. Botei-as agora de manhã, ontem [segunda-feira] estiveram sem comer todo o dia, estiveram todo o dia no curral porque não podiam sair com o lume, nem com os bombeiros, tudo a transitar perto delas, porque elas moram perto da estrada”, contou.
Hoje tirou-as “de casa” para uns baldios que não arderam e que ficaram para baixo, onde ficou por arder.
Também de Pardelhas, António Gravelos, 56 anos, tem um rebanho com cerca de uma centena de cabras e disse que já as começou a alimentar com palha e feno.
“Se ontem foi difícil hoje se calhar ainda será pior, porque as cabras não têm para onde ir pastar. Para irem para as ribeiras é muito quente, para a serra está tudo queimado”, referiu.
O pastor disse que a “situação não está fácil”. “Elas não podem passar onde está queimado, a terra está muito quente e faz-lhes mal às patas. Agora vai ser complicado”, frisou, adiantando que, quando vier a chover, a vegetação cresce e elas já podem ir para a serra.
O pastoreio extensivo e o turismo são das atividades mais atingidas pelo incêndio que serpenteou a serra do Alvão desde a encosta virada a Vila Real até passar para Mondim de Basto, afetando área de Parque Natural do Alvão (PNA).
Esta é uma área muito procurada por turistas, pelas paisagens de montanha, pelas Fisgas de Ermelo, umas quedas de água no rio Olo, e também pelas lagoas formadas na rocha, as Piócas.
O presidente da Câmara de Mondim de Basto, Bruno Ferreira, disse que o incêndio não chegou até à área das Fisgas de Ermelo.
“Mas a paisagem que temos hoje é completamente diferente, portanto prevê-se um impacto negativo naquilo que é uma experiência de visitação desta região”, referiu o autarca.
A Estrada Nacional (EN) 304, que é uma importante via de entrada em Mondim de Basto e no Alvão, está cortada desde segunda-feira de manhã.
Fernando Gomes, da empresa Pé na Terra, explora todo o PNA e já teve que cancelar um grupo por causa do comunicado do Governo que limita as atividades nas áreas de serra.
Agora teme que a paisagem que os seus clientes gostam de ver possa ter ficado queimada.
“Ainda não vi qual a dimensão da área atingida, e vou ver os programas que já tenho agendados e se terei que os alterar, porque se a área tiver queimada terei que modificar o local do programa o que será outro transtorno”, acrescentou.
O incêndio em Vila Real e Mondim de Basto continua ativo esta manhã, mantendo-se no terreno, segundo a página da Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, 625 operacionais, 210 viaturas e oito meios aéreos.