O ritmo do avanço rumo à neutralidade climática na União Europeia (UE) continua “muito lento”, e os impactos climáticos como os incêndios florestais, estão a enfraquecer a absorção natural de carbono da Europa, de acordo com um estudo.
Estas são algumas das conclusões do terceiro relatório sobre o “Estado do progresso da UE rumo à neutralidade climática”, elaborado pelo Observatório Europeu da Neutralidade Climática (ECNO) e hoje publicado.
Os especialistas alertaram que o progresso rumo às emissões zero ainda é “muito lento” na Europa.
Perante esta realidade, o ECNO sublinha a necessidade de aumentar os incentivos financeiros e regulamentares para proteger as florestas, áreas “essenciais na luta contra o clima”.
De acordo com o estudo, em 2023, o fosso de investimento em políticas climáticas era de 344 mil milhões de euros na Europa, apesar das promessas da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de concentrar o seu segundo mandato na implementação e promoção de investimentos para o Pacto Ecológico Europeu.
Nesse ano, como resultado da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a UE gastou o dobro desse montante em importações e subsídios aos combustíveis fósseis, enquanto os investimentos em energia limpa diminuíram.
Em 2024, as importações de combustíveis fósseis aumentaram para quase 400 mil milhões de euros, segundo os autores.
Atualmente, a UE depende da importação de gás natural liquefeito, cujo maior fornecedor são os Estados Unidos.
Os especialistas sugeriram a “integração urgente” da agenda climática com a agenda da competitividade industrial para colmatar a lacuna do investimento climático.
Alertaram ainda que o investimento público no clima enfrenta vários desafios após 2026, com reformas fiscais que aumentarão a pressão sobre os orçamentos climáticos de alguns Estados-membros.
Por isso, defendem o estabelecimento de um “quadro de investimento a longo prazo eficaz, bem informado e coordenado” para especificar o papel do financiamento público e privado.
Jonathan Gardiner, investigador do Instituto Ecológico de Berlim, salientou que o sumidouro de carbono da Europa enfraqueceu nos últimos anos devido ao aumento dos incêndios florestais, como os que afetaram Portugal e Espanha este verão.
As florestas são essenciais, mas estão sob forte pressão devido à seca, aos incêndios florestais e à crescente procura de madeira, lembrou.
Em toda a UE, observa-se que as reservas de carbono florestal estão a mostrar alguns sinais de recuperação, com um crescimento de aproximadamente 1,7% ao ano nos últimos cinco anos, embora a um ritmo muito lento para atingir a meta de sumidouros de carbono estabelecida para 2030.
O observatório apontou que, embora o Acordo Industrial Limpo, uma iniciativa europeia apresentada em fevereiro de 2025, seja “um passo positivo”, deve ser implementada a Lei da Indústria Líquida Zero em todos os Estados-membros da UE o mais rapidamente possível, bem como deve ser feita a revisão das regras de contratação pública para incentivar a inovação e a capacidade de fabrico em tecnologias limpas e estimular a procura de produtos verdes europeus.
Os especialistas da ECNO salientaram ainda que a Europa continua “altamente dependente de matérias-primas críticas importadas”, vitais para tecnologias e indústrias que abririam caminho a uma economia neutra em termos de clima e acelerar a descarbonização, melhorar a competitividade e aumentar a resiliência económica da UE.