A Federação Agrícola dos Açores acusou hoje a indústria de continuar a “asfixiar” os produtores de leite, seguindo uma estratégia de “contínua lapidação” do preço pago aos produtores, na sequência do anúncio de “sucessivas” baixas daquele valor.
“Os anúncios da Bel, Prolacto, Unileite e Insulac em São Miguel e da Unicol na Terceira, embora não sejam uniformes, vêm contribuir para a desmotivação de uma fileira de grande importância na região, que por estar em constante pressão e coação, pode vir a sofrer profundas alterações a médio e longo prazo”, refere aquela Federação Agrícola.
Ainda assim, nas restantes ilhas da região, “não foram anunciadas” descidas do preço de leite, acreditando a Federação que esta situação possa constituir “uma esperança” para a fileira do leite regional.
Numa nota de imprensa enviada às redações, a Federação Agrícola dos Açores adianta que “o preço de litro de leite UHT subiu ao consumidor aproximadamente 40 cêntimos, enquanto aumentou somente 20 cêntimos aos produtores de leite”.
De acordo com a Federação, que é presidida por Jorge Rita, a imagem da fileira “está mais uma vez posta em causa”, com “sucessivas baixas de preço de leite ao produtor, em maio e junho”.
“A Federação Agrícola dos Açores lamenta a estratégia delineada pela indústria de continua lapidação do preço de leite pago aos produtores, com o anúncio de várias baixas do preço praticado junto da produção, alegando excesso de leite e aumento de ‘stock’ dos produtos lácteos, numa fase em que a maioria dos custos dos fatores de produção continuam altos e em que a inflação permanece a níveis superiores ao desejado”, lê-se no comunicado.
A Federação assinala ainda que “as subidas em novembro do preço de leite no continente praticadas pelo Pingo Doce e pela Lactogal, não se repercutiram nos produtores de leite açorianos”.
“Por isso, mesmo com as descidas anunciadas, o diferencial entre o preço médio de leite nos Açores e o continente é de mais de 10 cêntimos, o que é significativo e desajustado”, aponta.
A Federação Agrícola dos Açores defende que “os elevados lucros” que as indústrias apresentam no final de cada ano, têm de ser “devidamente distribuídos”, nomeadamente, por quem produz “uma matéria-prima de qualidade”, como é o caso dos produtores de leite dos Açores.
“A produção continua a ser o parente pobre da fileira”, lamenta a Federação Agrícola, alertando que as indústrias são “fortemente” apoiadas pelos fundos comunitários, mas “não têm contribuído para a melhoria das condições dos produtores de leite”.
A Federação Agrícola dos Açores diz que a atual situação “ameaça” a entrada de jovens no setor, enquanto “muitos” produtores optaram pela conversão da produção de leite para carne e outros “estão no caminho” para a redução voluntária da produção de leite.
“Este não é o caminho que pretendíamos, mas a indústria obriga-nos a isso. As indústrias desempenham uma ação fundamental na economia regional, mas não podem assentar os seus resultados, única e exclusivamente na sua relação com a produção. Sem agricultores, não há agricultura, e sem isso, não há negócios nesta área”, defende.