Um novo estudo da Aliança Europeia para a Agricultura Regenerativa (EARA), divulgado este mês, revela que práticas agrícolas regenerativas lideradas por agricultores estão a superar os modelos convencionais em produtividade, rentabilidade e benefícios ecológicos. O relatório, intitulado “Regenerating Europe from the Ground Up”, resulta de três anos de investigação em 14 países europeus e baseia-se numa abordagem inovadora centrada no terreno.
O estudo recorre a um novo índice de avaliação, o Regenerating Full Productivity (RFP), que mede simultaneamente os impactos agronómicos, económicos e ecológicos das explorações agrícolas. Os resultados são claros: os agricultores regenerativos alcançaram, em média, uma produtividade total 33% superior à dos seus vizinhos convencionais, com ganhos que variaram entre 13% e 52%. Além disso, obtiveram níveis superiores de fotossíntese (+25%), cobertura do solo (+24%) e diversidade vegetal (+16%).
“Este estudo mostra que restaurar ecossistemas enquanto se produz de forma rentável não é um sonho teórico – é uma realidade prática nos campos de muitos agricultores pioneiros na Europa”, afirma Yann Boulestreau, agricultor e cientista da EARA.
Mesmo com apenas 2% menos rendimento em calorias e proteínas, as explorações regenerativas conseguiram usar 61% menos fertilizante azotado sintético e 75% menos pesticidas, gerando ainda uma margem bruta 20% superior por hectare. Outro dado relevante: enquanto as explorações convencionais da UE continuam dependentes de rações importadas, os agricultores regenerativos conseguiram manter produções comparáveis com alimentos para animais 100% europeus.
Para além dos ganhos produtivos, o relatório sublinha o impacto estratégico destas práticas. A adoção alargada da agricultura regenerativa poderia compensar mais de três vezes as atuais emissões agrícolas da UE – o equivalente a 513 megatoneladas de CO₂ por ano. Segundo o estudo, isso tornaria o setor agrícola europeu “positivo para a natureza e resiliente ao clima”, além de reforçar a segurança alimentar, a saúde pública e a soberania económica.
O relatório alerta ainda para a crise estrutural do setor agrícola europeu, marcada pela degradação do solo, perda de biodiversidade, rendimentos instáveis e envelhecimento dos agricultores – apenas 6,5% têm menos de 35 anos. Neste contexto, a agricultura regenerativa surge como uma resposta viável e transformadora. “Regenerar é um processo contínuo, uma cooperação entre diversidade e inovação local”, nota a EARA.
A organização defende agora que o índice RFP seja integrado nas políticas da União Europeia, nomeadamente na Política Agrícola Comum (PAC), como base para reformas orientadas por resultados. Entre as propostas está a criação de seguros de transição, apoios públicos e investimentos privados baseados no desempenho ecológico e produtivo.
“O tempo de agir é agora. Os instrumentos existem, os agricultores estão prontos e os resultados já são visíveis”, conclui o relatório.
Consulte o relatório aqui (inglês)
O artigo foi publicado originalmente em Rede Rural Nacional.