O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado, disse hoje, na Marinha Grande, que a criação de um emissário submarino pode ser a solução para os efluentes tratados não terem como destino o rio Lis.
Pimenta Machado explicou que vai ser pedido um estudo pela Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria para aferir qual “a solução, do ponto de vista ambiental, mais sustentável, que dê maior segurança para o destino final” dos efluentes tratados, admitindo a criação de um emissário submarino.
Questionado sobre se a solução passa por eliminar o rio Lis das descargas de efluentes tratados, Pimenta Machado adiantou que o que se pretende é salvaguardar “a qualidade de água do rio Lis”.
Já quando confrontado com o investimento que esta possibilidade possa comportar, o presidente da APA respondeu que “para projetos prioritários haverá sempre financiamento”.
O responsável da APA falava no final da primeira reunião da comissão de acompanhamento para avaliar a avaria na estação elevatória de Monte Real (Leiria), impactos e necessidade de investimentos.
No dia 12, às 10:00, foi registada uma avaria na estação elevatória de Monte Real, que obrigou à descarga de milhares de metros cúbicos de efluentes não tratados para o rio Lis e em valas de rega.
No dia seguinte, a Águas do Centro Litoral (AdCL) divulgou que aquela estação, que eleva efluente para a estação de tratamento de águas residuais do Coimbrão (Leiria), estava “temporariamente inoperacional devido a uma avaria nas bombas que compõem o sistema de elevação”.
Face à inoperacionalidade da estação, “foi acionado o sistema de descarga de emergência da estação, bem como da estação elevatória a montante (Serra de Porto do Urso)”, explicou a empresa, referindo que “estas descargas ocorrem, respetivamente, no rio Lis e numa vala de rega adjacente”.
Esta situação levou à interdição de banhos, já ultrapassada, na Praia da Vieira, na Marinha Grande, onde desagua o rio Lis, e o Município de Leiria desaconselhou atividades no troço do rio Lis a jusante de Monte Real, como captações para rega, banhos e pesca.
A avaria ficou resolvida na madrugada de dia 14.
Pimenta Machado classificou este acidente como “grave, com implicações graves” para o rio Lis e a Praia da Vieira, e esclareceu que a APA estima que “entre os 20 mil e 25 metros cúbicos de esgoto bruto foram lançados ao rio Lis”, o que “não pode tornar a acontecer”, embora risco zero não exista, reconheceu.
À pergunta se tinha memória de um acidente com esta dimensão, referindo-se à quantidade de esgoto lançado, Pimenta Machado respondeu negativamente.
Antes, destacou o trabalho em curso na resposta de emergência, como a limpeza do rio e a retirada dos peixes, e na própria estação elevatória, para sublinhar, contudo, a necessidade de uma resposta estrutural, para minimizar o risco de uma situação destas se repetir.
Neste âmbito, garantiu que a AdCL vai revisitar o sistema, para o tornar mais resiliente, lembrando, igualmente, a necessidade de avaliar as compensações financeiras para agricultores, concessionários de praia ou população em geral.
Já o presidente da Câmara da Marinha Grande, Aurélio Ferreira, declarou que há 30 anos que há registo de praias fechadas no concelho, mas “com esta dimensão nunca”, nem com a causa que determinou a interdição.
Aurélio Ferreira disse esperar que esta situação “crie uma oportunidade” no sentido de, “uma vez por todas”, erradicar “os problemas de poluição do rio Lis”, realçando que as entidades presentes assumiram “este caminho”.
O autarca desejou ainda que a médio prazo haja “uma solução viável” do ponto de vista ambiental e económico, para a população estar tranquila.