Num dos últimos programas do podcast “Agricultar”, produzido pela VIDA RURAL, tive a oportunidade e entrevistar João Roseiro, diretor agrícola para a Europa da SLM Partners, e Bruno Amaro, diretor do Departamento Rural da Savills Portugal. O mote da conversa era falar sobre o dinamismo do investimento agrícola, sob o ponto de vista de um investidor em pomares de frutos secos e de um consultor imobiliário especializado em negócios “agro”.
Foi uma conversa muito interessante, e que convido todos a ouvir (no site da VIDA RURAL ou nas plataformas habituais de podcasts), mas da qual retiro algumas perguntas para reflexão.
- Já se sabia que quebra de preços na amêndoa está a arrefecer o entusiasmo pela cultura. Mas poderá este revés, face às altas expectativas de cotações na altura da instalação, motivar decisões de reconversão da cultura? Tal parece estar a acontecer, de acordo com quem anda no terreno. Fará isto sentido, tratando-se de uma cultura permanente e com custos de instalação muito consideráveis? Qual o racional e a sustentabilidade destas decisões?
- Quem procura terrenos agrícolas para culturas de regadio quer instalar-se em perímetros de rega para garantir segurança. Bruno Amaro diz mesmo: “Não vendemos terra, vendemos água”. Mas haverá vida para além dos perímetros de rega? O quem me leva à pergunta seguinte: Há viabilidade para culturas de sequeiro? Numa altura em que se fala em resiliência dos sistemas, em variedades mais adaptadas e em sistemas regenerativos, onde está o potencial do sequeiro nas culturas permanentes? Estamos a saber aproveitar as oportunidades que se abrem em sistemas modernos e profissionais que colmatam produções mais baixas com custos igualmente baixos? Como saem as contas de cultura desta equação?
- No Norte do país, as zonas de minifúndio continuam a não ser atrativas: microparcelas, falta de cadastro e ausência de documentação são alguns fatores que inviabilizam negócios em zonas onde há interesse agrícola, dadas as condições edafoclimáticas, em investir em culturas como é o caso, por exemplo, da castanha (the next big thing?). Mas poderá este puzzle fundiário representar uma oportunidade gigante para quem tenha meios, tempo e paciência para negociar, agregar e escriturar centenas de parcelas e conseguir, no final, umas centenas de hectares contíguos que serão um futuro “diamante”?
Tal como René Descartes, são muitas as dúvidas metódicas… Mas só aceito informações que provem ser verdadeiras.
#agricultarcomorgulho
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.