O presidente da Iniciativa Liberal (IL) disse hoje, em Santarém, que a anunciada intenção do Governo de duplicar a produção de cereais no país, é para “enganar alguns” e “não faz sentido”.
João Cotrim Figueiredo visitou hoje a 58.ª Feira Nacional da Agricultura/68.ª Feira do Ribatejo, que decorre até domingo no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, numa deslocação que visou afirmar que a agricultura “tem sido o parente pobre da economia portuguesa” e que “conta, não só porque resistiu bem aos anos de pandemia, mas em termos absolutos”.
Para o líder da IL, a intenção anunciada pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, de duplicar a produção de cereais no país, “não faz sentido”, primeiro porque “há culturas muitíssimo mais rentáveis em Portugal”, segundo porque a autonomia alimentar, de que se fala na sequência da guerra na Ucrânia, “não é definida num país” e, terceiro, porque não existem infraestruturas de armazenamento e de reserva estratégica de cereais no país.
“Por essas três ordens de motivos, nunca seria uma prioridade numa política agrícola devidamente pensada em termos de futuro e de uma forma estratégica. É um anúncio para enganar alguns, mas não nos convence”, declarou.
Cotrim Figueiredo afirmou que a agricultura “tem sido o parente pobre da economia portuguesa”, pela pouca atenção que tem tido, nomeadamente “com a perda do peso político do Ministério da Agricultura ao longo dos anos e com uma série de decisões erráticas”.
O presidente da IL salientou o caráter exportador da agricultura portuguesa, o facto de estar “muitíssimo dependente da inovação, coisa que muita gente não tem consciência”, e ser “atrativa para muita gente jovem que pretende aplicar esses conhecimentos inovadores e a tecnologia à agricultura”.
Contudo, defendeu, é preciso que “não haja empecilhos, nem de regulamentação nem de impostos nem de interferência do Estado, para que se possa desenvolver suficientemente”.
Cotrim Figueiredo apontou o exemplo da Bolsa Nacional de Terras, lamentando que apenas tenham sido transacionados, até ao momento, uma dezena de terrenos e muito poucos tenham sido arrendados, o que atribuiu à forma como o instrumento foi construído, atendendo aos interesses do Estado e não dos agricultores.
“Mais uma vez é uma intenção que acaba por cair completamente por terra porque não está pensada na ótica de quem dela pode beneficiar, mas na ótica do Estado que parece que tudo controla em Portugal”, disse.
Para Cotrim Figueiredo, é fundamental que quem tem projetos inovadores, sobretudo os jovens formados nesta área, tenha terras onde possa materializar “a vontade de fazer diferente”, pelo que a bolsa de terras “devia ser repensada de alto a baixo e posta ao serviço de facto dos agricultores que dela precisam”.
O dirigente da IL disse que as queixas ouvidas junto dos agricultores esbarram sempre na burocracia e nas dificuldades impostas pelo Estado.
“É um acumular de preocupações velhas que não passam. Mudam governos, mudam políticas agrícolas comuns, muda o enquadramento e continuamos a pôr sempre sobre quem quer fazer coisas e uma atividade económica nova pesos e regulamentos que fazem as pessoas desistirem”, acrescentou, defendendo que “tornar as coisas mais fáceis, mais simples”, deveria ser “um desígnio e uma prioridade”.
A Feira Nacional da Agricultura, que foi inaugurada sábado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decorre este ano sob o lema “Bem-Vindo ao Futuro” e tem em destaque a inovação e a tecnologia.